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19. Serrasalmo (sensu strictu) Brandtii161 Rhdt.

Tendo em conta as curtas diagnoses que Günther fornece para as 7 espécies de Serrasalmo, no ``Catalogue of fishes'' (tomo V, pp. 369-372), dificilmente poder-se-ão evitar as dúvidas acerca da validade

\begin{figure}\noindent{\epsfxsize =0.95\hsize\epsfbox{PEIXE15.PS}}\end{figure}

das espécies ali reconhecidas, pois são insignificantes as diferenças que demarcam os limites entre elas. Assim, o número de raios da nadadeira dorsal dentro do gênero varia ali somente entre 15 e 18, os da nadadeira anal, por outro lado, na mesma espécie variam de 32 a 36 e os da ventral (também na mesma espécie) entre 6-7; as fileiras de escamas somente entre 95 e 100; os espinhos do ventre entre 26 e 35. As proporções do corpo também não são muito diferentes, com uma ou duas exceções, restando, portanto, somente alguns poucos caracteres - o segundo suborbital ser ou não mais largo que alto e separado do pré-opérculo por uma área de pele mais ou menos larga - sobre cuja validade não é possível ter-se uma opinião bem fundada de antemão. Nessas condições, dificilmente é possível dar uma prova rigorosa de que uma espécie de Serrasalmo é realmente nova, quando ocorre em uma região da qual até agora não se conhecia nenhuma outra e quando ela não pode ser diagnosticada com mais certeza que alguma das anteriormente descritas; e aqui tenho de deixar indefinida - apesar de certamente ser pouco provável, - a questão se a espécie ``S. aureus'', remetida por St. Hilaire ao Museu de Paris (``Hist. nat. des poissons'', tomo XXII, p. 283), poderia ser a que descrevo - com o que, entretanto, não ficaria absolutamente claro se ela seria também a espécie que Spix e Agassiz denominaram, que é da bacia do Rio Amazonas162.

Da ``piranha-da-lagoa'', que vive na Lagoa Santa, existe uma meia dúzia de exemplares de 6-9 polegadas de comprimento. Na maioria destes, a maior altura do corpo é a metade ou algo menor que a metade do comprimento total (este calculado do mento ou ponta da maxila inferior, com a boca fechada, até onde a cobertura de escamas termina, no meio da porção lateral da nadadeira caudal); somente em dois exemplares a altura é um pouco maior que a metade do comprimento total, e, em um destes, que, além de ser relativamente o mais alto, é o maior dos 10 exemplares disponíveis, a altura é precisamente igual à metade do comprimento total quando medido até a borda posterior da nadadeira caudal. Apesar de esta relação entre altura e comprimento parecer variar muito durante a vida do peixe, como se verá mais adiante na descrição dos indivíduos muito jovens, pode-se no geral dizer que depois de certo tamanho (por exemplo 6 polegadas), S. Brandtii tende a ficar mais alto com a idade, e a diferença nesse aspecto é muito perceptível quando se compara o maior dos espécimens aqui tratados (9 polegadas de comprimento) com o menor (6 polegadas de comprimento). O comprimento da cabeça (calculado da ponta do focinho até a borda de trás do opérculo) é contido 3 1/3 (3,3 ou 3,4) vezes no comprimento total (este medido como acima, até a raiz da nadadeira caudal). Também a forma do corpo mostra alguma variação, tanto que o perfil dorsal em alguns, principalmente nos mais jovens, aproxima-se fortemente da linha horizontal e segue daí em curva pronunciada e para frente com uma insignificante depressão acima dos olhos caindo em direção à ponta do focinho, ao passo que em outros, essa depressão acima do olho é mais profunda e o dorso forma um arco mais suave; o perfil do ventre, ao contrário, é em todos um arco suave, da nadadeira anal até o queixo. A maxila inferior avança, como em outros Serrasalmo, bastante à frente da parte superior da boca, e o olho situa-se relativamente mais alto nos exemplares mais jovens que nos mais velhos; nos maiores, seu diâmetro é contido aproximadamente 4 1/2 vezes no comprimento da cabeça (da ponta do focinho até a borda de trás do opérculo), mas, nos mais jovens, é mais que um quarto desta; pode-se dizer ainda que ele é igual ao comprimento do focinho (até a órbita ocular) e maior que a metade da distância entre os olhos (medida em linha reta) - nos mais jovens é até três quartos desta, e nos muito pequenos somente muito pouco menor que esta. As narinas situam-se acima do meio das órbitas, mas abaixo de sua borda superior. Dos ossos suborbitais, densamente estriados, assim como o alto e estreito opérculo, o segundo é sempre mais longo (medido entre os dois cantos de baixo) que alto (na direção vertical) e separado da parte horizontal do pré-opérculo por uma área de pele, que às vezes é tão estreita que se tem de reconhecer que esses ossos se tocam no mínimo em algum ponto. Em cada intermaxilar, S. Brantdii (assim como S. piraya e tanto quanto conheço todos os Serrasalmo) possui 6 dentes e em cada lado da maxila inferior 7; destes últimos mencionados, o da frente é o mais alto, o posterior o mais baixo; o da frente tem uma cúspide aguda de cada lado, os demais uma cúspide somente em sua borda posterior ou do lado exterior. Os dentes do intermaxilar, do mesmo modo, possuem uma cúspide lateral somente na parte posterior, e os dois ou três últimos, que aumentam fortemente em largura e diminuem em altura, podem mostrar, mais ou menos nitidamente, traços de serem bipartidos. O primeiro e, principalmente, o terceiro dente do intermaxilar são significativamente menores que seus vizinhos mais próximos, o último (de trás) é 3 vezes mais longo (largo) que alto, o segundo (a partir da frente), ao contrário, é um pouco mais alto que largo no nível de sua raiz. Encontram-se 5-7 dentes palatinos em cada série, os quais não faltam em nenhum dos exemplares disponíveis. A borda posterior da nadadeira caudal, quando distendida, é quase truncada reta; a nadadeira dorsal é bastante alta e curta; seu comprimento é menor que sua altura na frente (paralelamente aos raios), entretanto maior que a metade do comprimento da cabeça e aproximadamente um terço da altura do corpo nos exemplares mais baixos. Sua altura na parte de trás é a metade ou dois terços da sua altura na parte da frente, e seu início situa-se mais próximo do olho que da raiz da nadadeira caudal somente nos menores dos maiores exemplares aqui tratados - ao contrário, nos exemplares mais jovens parece que esta relação é bastante variável - nos demais, mais próximo da última. A nadadeira adiposa (medida paralelamente à sua borda frontal) é tão alta quanto larga (longa) ou mais alta que larga, e sua metade basal é coberta de escamas; seu comprimento (na base) não chega a ser igual à metade de sua distância até a nadadeira dorsal, mas é acima de um terço dela; por outro lado, sua distância da raiz da nadadeira caudal não chega a metade de sua altura (medida como acima). O comprimento da nadadeira anal junto à sua base é igual ao comprimento da cabeça (da ponta do focinho até a abertura branquial), sua borda é regular e corre quase paralelamente à borda de escamas da sua base, elevando-se um pouco somente à frente, de modo que sua altura aí se torna mais que o dobro de sua altura na parte de trás. As nadadeiras ventrais, que estão mais ou menos distantes da nadadeira dorsal, mas sempre completamente à sua frente, alcançam com suas pontas somente até a metade da distância até a nadadeira caudal, ao passo que as a metade da distância até a nadadeira anal, ao passo que as pontas das nadadeiras peitorais caem um pouco além da raiz das nadadeiras ventrais. O número de raios das nadadeiras, - contados em 10 exemplares - é o seguinte: D.: 15-17 (2-3 + 13-15); P.: 13-16; V.: 6-7; A.: 34-40 (1-4 + 30-37); C.: 7-17-6 - existe, como em outras espécies do subgênero, uma grande variação, mais especificamente no número de raios da nadadeira anal. O número comum de raios na nadadeira dorsal é 2 não divididos e 13 ou 14 divididos, porém, freqüentemente, também se poderia contá-los como 14 ou 15, se se desejasse contar o último raio, meio frágil, como um raio independente e não simplesmente como uma parte do último; uma única vez encontrei 3 raios não divididos, em vez de 2. A nadadeira anal tem, em geral, 3 raios não divididos (um único exemplar tinha somente 1!) e 30-37 raios divididos, mais freqüentemente 33-34. O número de dentes na serrilha ventral varia de 30 a 35, além dos 2 ou 3 que se localizam de cada um dos lados do ânus; os da frente são muito pouco visíveis, os de trás possuem a forma de um pente de osso de dentes baixos e afiados. À frente da nadadeira dorsal existe um espinho ósseo horizontal, escondido sob a pele. A linha lateral é quase reta, um pouco levantada somente à frente; ela é formada de um canal simples - raramente bifurcado e somente nos exemplares muito grandes - em cada escama, das quais se contam cerca de 90 ao longo desta linha, acima dela, na parte anterior do corpo, perpendiculamente, contam-se cerca de 30 e, abaixo dela, cerca de 25. Uma larga área de pele, ao longo do perfil dorsal da cabeça até a nadadeira dorsal, não possui escamas. Exemplares de 6 polegadas de comprimento ou acima disso, além do dorso mais escuro (como nos jovens), não mostram outro traço de desenho.

Nos exemplares mais jovens (de 4 3/4 -3 1/2 polegadas de comprimento) a altura é, às vezes, um pouco mais da metade do comprimento total (até a raiz da nadadeira caudal), mas nos ainda mais jovens (de 3 1/2 -2 3/4´´) a altura é também, freqüentemente, igual ou muito pouco menor que a metade do comprimento total; o perfil dorsal é inclinado ou curvo, com uma queda mais ou menos acentuada e uma depressão mais ou menos nítida acima do olho. A área de pele entre o segundo suborbital e o pré-opérculo é especialmente larga nos menores desses exemplares jovens. Não fui capaz de encontrar qualquer diferença nos dentes de acordo com a idade, a não ser que nos jovens o segundo dente do intermaxilar talvez possua uma cúspide lateral mais nítida do lado interno da cúspide principal do que nos adultos. Nos indivíduos muito jovens, a nadadeira caudal é, às vezes, mais profundamente entalhada. Todos esses exemplares mais jovens possuem - ao contrário dos adultos - um padrão muito nítido, constituído de pequenas manchas negras redondas por todo o corpo, tanto no dorso mais escuro como sobre o resto do corpo mais claro163. As nadadeiras caudal, adiposa, dorsal e anal possuem a faixa escura na sua borda livre, e existe uma sombra escura em forma de meia-lua sobre a raiz da nadadeira caudal e suas bordas superior e inferior. Os brasileiros chamam esses indivíduos jovens de ``pirampeba'', embora saibam que se trata apenas de filhotes da piranha. Diz-se que S. Brandtii é encontrada somente no lago, não no Rio das Velhas, onde é substituída pela S. piraya; entretanto, Reinhardt certa vez obteve 2 exemplares em um riacho que não tem qualquer ligação com o lago, mas somente com o rio.



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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-06-20