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Próxima: O Gênero Tetragonopterus. Início: C. O Grupo dos Prévia: 7. Leporinus Marcgravii Rhdt.

8. Leporellus pictus (Kner).

Sinônimo Leporinus maculifrons Rhdt. (in sched.)

Dos Leporinus típicos, tal como é caracterizado em maiores detalhes nas quatro espécies anteriormente descritas, esta espécie destaca-se pelas três seguintes características: 1) as narinas não se situam a uma certa distância uma da outra, mas uma imediatamente à frente da outra; 2) a membrana branquial não é presa no lado inferior da cabeça, mas completamente livre; 3) a cobertura de escamas avança bastante sobre os lobos da nadadeira caudal, tanto no superior como no inferior. As duas primeiras características são precisamente aquelas que Günther usa para separar o grupo dos Anostomus do grupo dos Tetragonopterus (e dos Hydrocyon); e os Leporellus seriam, de acordo com o arranjo daquele excelente ictiólogo, não somente classificados como um gênero distinto dos verdadeiros Leporinus, mas também como um outro grupo dentro da família dos Characini. Isso não me parece natural e, talvez, fosse mais acertado eliminar o limite entre os dois Leporinus e o grupo tratado aqui.

O único exemplar disponível, com aproximadamente 6 polegadas de comprimento, tem o corpo alongado; a altura é quase um quinto do comprimento total (medido até a borda da última escama da linha lateral), o comprimento da cabeça um quarto do mesmo, ou seja, claramente maior que a altura; o corpo é ainda bastante comprimido, a maior largura (entre os arcos escapulares, imediatamente acima das nadadeiras peitorais) igual à metade do comprimento da cabeça, a superfície do dorso e da cabeça são muito planas, e o perfil dorsal é uma linha quase reta, que somente a partir da nuca cai levemente em direção à ponta do focinho. O olho situa-se alto nos lados da cabeça, um tanto mais perto da ponta do focinho que da parte mais distante da borda de pele do opérculo; seu diâmetro é mais que a metade da largura da testa, e contido 5 1/2 vezes no comprimento da cabeça. O focinho é alto e arredondado; as dobras dos cantos da boca não alcançam exatamente abaixo das narinas anteriores; estas, como mencionado, situam-se imediatamente à frente das posteriores; ambos os conjuntos situam-se acima da continuação da linha mediana dos olhos e muito mais perto dos olhos que da ponta do focinho; a narina posterior é uma grande fenda oval, inclinada, a da frente tem forma de um tubo baixo, com um orifício de entrada estreita, quase perpendicular; sua borda posterior prolonga-se numa grande aba redonda, que pode cobrir quase completamente a narina de trás, quando está voltada para trás, mas ela parece ser mais adaptada para fechar a narina da frente. Ambas as maxilas são de igual tamanho. Existem de cada lado ${{4}\over{4}}$ dentes arredondados, que crescem em tamanho de trás para frente, formando em conjunto um cinzel, sendo os da frente mais longos e maiores. A parte superior da boca possui uma grande aba palatal, entretanto não vejo nódulo algum em forma de papila, que normalmente se encontram em Leporinus junto à parte posterior das fileiras de dentes da porção superior da boca. A nadadeira dorsal começa em um ponto que fica um tanto mais próximo da ponta do focinho que da raiz da nadadeira caudal, as nadadeiras ventrais se originam sob o meio da nadadeira dorsal; a nadadeira adiposa atrás da nadadeira anal, de forma que as extremidades posteriores de ambas caem mais ou menos na mesma linha vertical; existem 3 fileiras de escamas entre a ponta das nadadeiras peitorais e as nadadeiras ventrais e 7 entre a ponta da nadadeira anal e o raio mais inferior da nadadeira caudal. O ânus situa-se no meio da distância entre a nadadeira anal e a ponta das nadadeiras ventrais. As escamas têm numerosas (6-10) estrias sulcadas. Conto 42 escamas na linha lateral, que é bem marcada, quase em forma de cordão, 26 séries na parte da frente do corpo, 5 acima e 6 abaixo da linha lateral (somente 4 até as nadadeiras ventrais), além das ímpares; 12 entre a nuca e a nadadeira dorsal. A cobertura de escamas continua, como foi mencionado, um bom pedaço pelos lobos da nadadeira caudal. O número de raios é, contado do mesmo modo que nas espécies anteriores: B.: 4; D.: 12 (2.10); P.: 16; V.: 9; A.: 11 (2.9); C.: 3.17.3. Desconheço a cor do peixe vivo. No álcool, tem uma cor cinza-amarronzado no dorso, que desaparece para baixo nos lados, sendo a parte de baixo amarelo-latão (em condições mais frescas, provavelmente é esbranquiçada como o ventre); da nuca até o fim da nadadeira dorsal estende-se uma faixa, que é muito mais escura que a cor básica do dorso e ocupa a linha mediana, assim como metade da série de escamas de cada lado. A linha lateral é salientada por uma estreita e muito tênue faixa escura, que se estende até a nadadeira caudal. Os lados da cabeça têm um brilho prateado e a superfície da testa é acinzentada e densamente coberta com pequenas e irregulares manchas escuras, as quais também podem ser percebidas em direção à parte frontal do dorso, mas que progressivamente se fundem na cor escura do dorso e somente se mostram como uma mancha difusa, escura, na base de cada escama. Ao longo da metade superior da nadadeira dorsal estende-se uma larga faixa negra, e a raiz da nadadeira caudal é decorada com duas listras escuras, que convergem para trás.

Esta espécie parece ser rara no Rio das Velhas, de onde Reinhardt conseguiu obter o único indivíduo aqui descrito, que foi capturado um par de milhas do local onde ele estava na época, o exemplar lhe foi trazido já no álcool por um dos pescadores que morava nas margens do rio e que não conhecia qualquer outro nome para ele além de ``timboré''.

Ao comparar esse exemplar disponível com o Leporinus pictus descrito e retratado por Kner118, que Natterer capturou em Irisanga, no Mato Grosso, deparamos somente com diferenças insignificantes: a altura dada é um pouco maior e a testa algo mais larga em relação ao tamanho dos olhos nos exemplares de Natterer. Não acho, todavia, que possa haver dúvida quanto à identificação e também não há, com respeito à descrição, nada de mais no fato de Kner considerar que o L. vittatus Val. trazido por Castelnau do Araguaia119 (Goiás) seja da mesma espécie, motivo pelo qual ele teve de manter o nome mencionado por último; embora aqui se possa notar que Valenciennes assinala 45 escamas na linha lateral. Apesar de nenhum dos autores mencionados fornecer as características da posição das narinas e da membrana branquial, que me motivaram a considerar esta espécie genérica ou subgenericamente diferente dos verdadeiros Leporinus, existe aparentemente razão para considerar que as formas descritas por eles concordam nesses aspectos com o Leporellus do Rio das Velhas. Devido à possibilidade de que uma comparação imediata possa dar como resultado que os Leporellus que ocorrem em Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais sejam especificamente diferentes, acrescentei acima o nome da espécie que o Prof. Reinhardt havia dado antes que a descrição de Kner tivesse sido publicada, para que, eventualmente, lhe possa ser dada a prioridade.



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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-06-20