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5. Leporinus Reinhardti Ltk.

(prancha IV, fig. 10)

L. affinis Rhdt., (in sched.106).

De uma espécie de Leporinus, que os moradores chamam de ``timboré-pintado'', Reinhardt trouxe 6 exemplares do Rio das Velhas; o maior deles tinha somente pouco mais de 7 polegadas de comprimento; ela pertence ao grupo de espécies que possuem uma série de três manchas escuras ao longo dos lados, a primeira abaixo da nadadeira dorsal107; o número de raios é como em L. elongatus: D.: 13 (2.11); P.: 15-17; V.: 9; A.: 11 (2.9); C.: 3.17.3108. A maior altura do corpo é contida de 3 até acima de 3 1/2 vezes no comprimento total (até a nadadeira caudal), o comprimento da cabeça (a membrana do opérculo incluída) 4 vezes, um pouco acima ou abaixo disso; a cabeça parece ser relativamente menor nos maiores, relativamente maior nos exemplares mais jovens. O focinho não avança à frente da maxila inferior; a boca é pequena; suas comissuras situam-se, portanto, abaixo das narinas anteriores. O olho fica um pouco mais baixo do lado da cabeça que em L. elongatus, eqüidistante da ponta do focinho e da abertura branquial; seu diâmetro é contido 2 vezes na largura da testa arqueada (em linha reta), cerca de 5 vezes no comprimento da cabeça. O perfil da cabeça e da parte anterior do dorso nem sempre é suave, mas possui uma interrupção ou depressão mais ou menos reconhecível na passagem de uma para a outra. Como é bem comum, os dentes, cujo número também é ${{3}\over{3}}$, são mais obtusos nos exemplares mais velhos; os jovens os possuem mais agudos, com uma borda mais arredondada e especialmente uma nítida incisão nos dentes superiores da frente. A linha lateral é nítida e compreende 38 escamas (somente em um exemplar 37 ou 39); na parte anterior do corpo o número de séries de escamas é 30, como em L. elongatus, precisamente 6 acima e 7 abaixo da linha lateral, além das séries ímpares no meio do dorso e do ventre. As nadadeiras peitorais não alcançam as ventrais, a nadadeira anal também não alcança a caudal. O primeiro raio da nadadeira dorsal não é, de modo geral, nem a metade do segundo. As escamas são em sua borda livre ornamentadas apenas com linhas finas, aproximadamente concêntricas à borda; suas estrias são bem marcadas, mas pouco numerosas.

Aug. de St. Hilaire trouxe do Rio São Francisco, de acordo com o que Valenciennes relata, dois Leporinus com essas três manchas bem características de cada lado, e ambos das mesmas espécies que D'Orbigny havia trazido do Rio da Prata para o Museu de Paris; um deles, que Valenciennes anteriormente havia retratado sob o nome Curimatus acutidens (Viagem de D'Orbigny, prancha 8, fig. 1), ele identificou mais tarde - talvez meio apressadamente - como L. Frederici Bloch do Suriname; o segundo (que ele acredita reconhecer em um dos peixes trazidos por Castelnau do Rio Amazonas109) denomina-se L. obtusidens Val. (D'Orbigny, loc. cit., prancha 8, fig. 2). Poderia lançar-se a dúvida se L. acutidens não seria a forma jovem de L. obtusidens; os exemplares de Valenciennes da espécie mencionada por último tinham, respectivamente, 10 e 14 polegadas de comprimento; os da espécie mencionada em primeiro lugar não eram maiores que os exemplares do Museu de Paris de L. Frederici trazidos do Suriname, ou seja, cerca de 8 polegadas; pois, de outro modo, isso certamente seria mencionado, e não há contradição no fato de que a forma maior tenha dentes mais arredondados e cabeça relativamente mais curta. Que Valenciennes tenha encontrado uma pequena diferença em suas duas supostas espécies - D.: 12, em lugar de D.: 11 (em L. Frederici); P.: 16, em vez de P.: 15; C.: 23, em lugar de C.: 21 - é em parte sem importância (nadadeira peitoral), em parte decorrente de um engano (nadadeira caudal110). Mais importante é que L. obtusidens deve ter 42 escamas na linha lateral, ao passo que L. acutidens deve ser considerado como tendo 38, como se relata para L. Frederici111. Nosso peixe do Rio das Velhas aproxima-se deste, mas difere de L. obtusidens de Valenciennes por ter 38 (e não 39) escamas na linha lateral; mas não pode, de forma alguma, ser classificado como L. Frederici (Bl.), do qual o Museu possui três pequenos exemplares do Suriname (dois com 38 e o terceiro com 39 escamas na linha lateral), e nos quais existem somente 26 filas de escamas na parte anterior do corpo, ou seja, 5 acima e 6 abaixo da linha lateral e uma ímpar no meio em cima e embaixo; e, finalmente e o mais importante, L. Frederici tem ${{4}\over{4}}$ dentes112, ao passo que a forma disponível do Rio das Velhas e do São Francisco tem somente ${{3}\over{3}}$, como em L. elongatus. Não resta outra saída, a não ser considerar que, tanto no Rio das Velhas como no Rio São Francisco, ocorre uma espécie com três manchas, a qual não concorda com qualquer das descritas anteriormente, se não se considera que estas, que tudo indica serem do sistema fluvial do Rio São Francisco, foram incorretamente classificadas como sendo das espécies113 mencionadas, parte no sul, no Rio da Prata, parte no norte, no Suriname. Da forma como as coisas se apresentam, não tive outra opção senão dar um novo nome à forma trazida por Reinhardt.

``No peixe vivo a superfície da testa tem uma cor oliva-escuro, o dorso é mais claro, cinza-esverdeado, refletindo em certas direções um brilho prateado; para baixo, em direção à linha lateral, sua cor fica mais pálida e transforma-se à frente desta em uma cor prateada pura, que toma os lados e o ventre e, do mesmo modo, predomina nas superfícies laterais da cabeça; nos lados do corpo, exatamente na linha lateral, encontram-se três manchas escuras alongadas, das quais a mais anterior se situa abaixo da nadadeira dorsal, a traseira perto da raiz da nadadeira caudal, e a terceira aproximadamente no meio, entre as outras duas; estas podem, em alguns indivíduos, ser mais pálidas e menos nítidas que em outros, às vezes, no mesmo indivíduo, menos desenvolvidas de um lado que do outro; mas, aparentemente, nunca estão ausentes e sua aparência é, de acordo com minha experiência, completamente independente da idade e do tamanho do peixe. As nadadeiras dorsal e caudal são marrom-esverdeadas; as nadadeiras anal e ventral possuem, às vezes, uma cor amarelo-suja, às vezes mostram um fraco tom alaranjado; as nadadeiras peitorais são quase sem cor. A córnea é prateada, aqui e ali manchada de preto.'' (R.) Aqui devo acrescentar que exemplares mais jovens possuem uma densa série de listras transversais mais ou menos nítidas no dorso - um desenho que efetivamente parece ser muito comum nos peixes desse gênero quando jovens. Apesar de não poucos exemplares chegarem às mãos de Reinhardt em diferentes tempos, entre estes fêmeas cheias de ovas (com o que se pode dizer que teriam alcançado aproximadamente o tamanho normal da espécie), ele nunca viu exemplar algum que tivesse mais que 9 polegadas de comprimento114.

Esta espécie não ocorre somente no Rio das Velhas e seus afluentes, mas também nas águas paradas e nos lagos em seu vale, por exemplo, na Lagoa Santa; Reinhardt salienta, ainda, que o exemplar que ele viu deste lago era relativamente mais alto que a forma ocorrente nos rios, mas, como não conseguiu encontrar outras discrepâncias e somente pôde examinar um exemplar ainda imaturo de 5-6 polegadas de comprimento, ele teve de deixar para futuros pesquisadores da fauna piscícola desta região examinarem se esta diferença é constante e se pode ter um significado maior.

``O tempo de desova da espécie parece ocorrer no início de março, pois, nas fêmeas trazidas a mim no final de fevereiro, os ovários estavam tão fortemente desenvolvidos que os grãos verde-pálidos já começavam a sair da abertura genital, quando se apertava o peixe ou o colocava em aguardente. Ele morde ferozmente o anzol, pelo menos no tempo de acasalamento, mas, devido ao seu tamanho pequeno, não é de grande importância como alimento. Na região da cidade de Lagoa Santa é chamado simplesmente de ``timboré'', palavra indígena que provavelmente na língua guarani denominou uma única espécie, mas que agora se utiliza indiscriminadamente para todos os Leporinus que aparecem; quando se deseja diferenciar esta espécie das demais, muitos chamam de ``timboré-pintado'', ou seja, timboré com pintas.


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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-06-20