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14. Pimelodus maculatus Lac. (?).

? Valenciennes, loc. cit. p. 192; Günther, loc. cit. p. 115; Kner, Ichthyol. Beiträge loc. cit. p. 413.


Mesmo que não se queira manter o gênero Pimelodus com a abrangência que aparece, por exemplo, em Günther, que desconsiderou os gêneros nos quais Bleeker o tinha dividido - aspecto a que mais à frente eu voltarei -, o nome do gênero Pimelodus de Lacepède é, mesmo assim, mantido para esse grupo, no qual P.maculatus Lac. se encaixa; essa espécie tem, além do mais, de continuar a ser o tipo do gênero. Infelizmente ela foi somente citada, mas não descrita, por Valenciennes e somente caracterizada por Kner e Günther. O que foi dito sobre ela por esses autores se aplica em tudo a um Pimelodus chamado ``mandi'' ou ``mandi-amarelo'' em Lagoa Santa, do qual Reinhardt trouxe 13 exemplares do Rio das Velhas e da Lagoa Santa. Se não existirem mais espécies misturadas sob esse nome, esta deve estar espalhada por uma grande parte da América do Sul; o Museu de Paris a obteve de Buenos Aires, Caiena e do lago Maracaíbo; de acordo com D'Orbigny, ela ocorre no Prata, Paraná e Uruguai até a latitude 26o sul (se ocorre mais ao sul não se sabe); Natterer a trouxe (pelo que conta Kner) de vários lugares do Brasil (Irisanga, no Mato Grosso71, Rio Branco e Barra do Rio Negro); além disso, o British Museum a tem do Suriname e Demerara, do ``Rio Capim, Pará'', de ``Barranquilla (Nova Granada)'', e, finalmente, Hensel a encontrou como espécie comum no Sul do Brasil, no Rio Jacuí e seus afluentes. Que Valenciennes relacione essa espécie a uma das formas retratadas por Marcgraf, a qual, segundo Piso, é comum no Rio São Francisco, está bem de acordo com minha própria determinação do ``mandi'' que ocorre no Rio das Velhas72. Tenho, entretanto, de enfatizar algumas pequenas discrepâncias entre esta e as descrições acima citadas, que nessas circunstâncias, presumivelmente, não são suficientemente grandes para levantar conjecturas bem fundadas sobre uma diferença específica entre as formas descritas pelos autores, quer seja entre si ou entre estas e aquelas à nossa disposição.

Günther descreveu o processo occipital como `` uma quilha arredondada''; daí que, provavelmente, ele não seja suficientemente pronunciado; melhor seria descrevê-lo ``em forma de telhado'' ou ``arqueado''. Também não se pode dizer que essa projeção seja muito longa ou larga. O escudo pré-dorsal, na forma de sela à frente da nadadeira dorsal, foi descrito por Günther como ``grande'', enquanto Kner o descreveu como ``pequeno e muito estreito''. O barbilhão da maxila superior não é ``tão longo quanto o comprimento total do peixe'' (Günther), mas em média vai um pouco além da parte posterior da nadadeira ventral ou alcança a nadadeira anal. Ao contrário, é correto que a nadadeira adiposa tenha o comprimento aproximadamente igual a um quinto do comprimento total (sem a nadadeira caudal). O raio duro da nadadeira dorsal é insignificantemente maior que a própria nadadeira dorsal e muito mais curto (um quinto a um sexto) que a cabeça - não ``tão longo quanto'', o que dizer de ``maior que'' esta (como nas descrições de Günther), mas, por outro lado, somente nos exemplares maiores ``mais curto que a maior altura do corpo'' (Kner). (Quanto mais jovem o peixe, mais alongado ele é; quanto mais velho, mais grosso e alto; a altura à frente da nadadeira dorsal é, dessa forma, quase igual ao comprimento da cabeça no nosso maior exemplar73, e somente dois terços dele no nosso menor exemplar.) O raio duro da

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nadadeira dorsal é rígido, fracamente serrilhado atrás, em sua parte superior, em geral reto, raramente ``fracamente encurvado'' (Kner); o da nadadeira peitoral é plano, largo, estriado, um pouco áspero, mas não serrilhado na parte da frente, ao contrário, fortemente serrilhado na parte de trás (de acordo com Kner, esse carácter deveria ser apenas ``medíocre''). De acordo com o mesmo autor, a parte do escudo da testa, que limita a fontanela (a qual alcança além de uma linha imaginária ligando as bordas posteriores dos olhos), é enrugada no sentido paralelo ao comprimento; provavelmente esse aspecto se acentua nos exemplares secos. Da linha lateral partem sem dúvida curtos tubos duplos para baixo, mas estes são tão curtos que, junto a eles, a linha lateral fica apenas um levemente irregular. Ainda se pode adicionar que a parte dianteira do ``capacete'', uma parte do ``escudo pré-dorsal'', uma parte do processo escapular e uma maior ou menor parte do opérculo são granuladas; que a nadadeira dorsal, quando abaixada, às vezes alcança com sua ponta a nadadeira adiposa; que a parte superior da nadadeira caudal, como em muitos outros Siluridæ, é um pouco mais longa que a inferior; e que o diâmetro dos olhos é contido 6 vezes ou um pouco mais no comprimento da cabeça, mas, somente no maior dos exemplares, 2 vezes e um pouco mais na distância entre eles. Diferentemente de P.ornatus Kn., deve-se anotar ainda que o focinho é relativamente estreito, que a abertura da boca é menos larga, que a faixa de dentes em ambas as maxilas, mas principalmente na superior, é muito mais estreita e não é mais larga nos lados. As nadadeiras ventrais localizam-se em ambas as espécies abaixo do último raio da nadadeira dorsal. Número de raios: D: 7 (1.6); P: 10 (1.9); V: 6; A: 11-12 (4.7, raramente 8). Tamanho: Reinhardt menciona um exemplar com 450 mm (17 1/4 polegadas); o maior que foi trazido tem 16 1/2 polegadas. A cor dos exemplares conservados em álcool é marrom-acinzentada, com duas ou três séries mais ou menos nítidas - às vezes quase apagadas - de grandes manchas ao longo dos lados do corpo e com a parte de baixo esbranquiçada ou amarela como latão. Com a idade, parece que as manchas ficam um pouco mais numerosas e menores. A nadadeira dorsal pode também mostrar traços de manchas. Uma das retratações de um peixe vivo, feita pelo Prof. Burmeister durante sua estada em Lagoa Santa (da qual a litografia da figura anterior foi feita), mostra como cor básica o amarelo-sujo ou amarelo-cinza com 4 fileiras de manchas pretas e a parte de baixo branca. Reinhardt anotou que o ``brilho dourado que se espalha sobre o peixe pode ser raspado, e o fundo se mostra de uma cor cinza-prateada; na borda frontal das nadadeiras ventrais e na nadadeira anal (principalmente nesta última) encontra-se uma viva mistura de cor laranja-avermelhada. O brilho dourado também se espalha no mínimo pela parte posterior do ventre e pela parte de baixo da cauda; quando este brilho é retirado, estas partes ficam brancas como a parte anterior do ventre''.

O ``mandi-amarelo'' é encontrado não só no Rio das Velhas, mas também no lago (Lagoa Santa). No outono, o peixe deixa o lago em densos cardumes, através do riacho que serve de escoadouro para este; se o peixe retorna em outra estação do ano, não se sabe; mas é avidamente pescado em sua viagem, quando desce o pequeno riacho. ``No dia 10 de fevereiro de 1855 os ``mandis'' estavam saindo do lago, que ficou muito cheio após uma chuva incomumente forte; foram caçados com rede, anzol, cestos e até mesmo com varas, enquanto eles estavam retidos na parte cheia de junco do lago, onde se situava sua saída. Vários foram capturados, embora não fossem muitos em relação à grande quantidade de peixes que se movimentavam juntos para sair do lago, talvez para depositar suas ovas nas águas correntes do rio; um exemplar que Reinhardt ganhou nessa ocasião era uma fêmea com o ovário fortemente aumentado. Como a época de reprodução ocorre em janeiro e fevereiro, podemos explicar também porque o macho examinado em 8 de fevereiro possuía a vesícula seminal cheia de esperma, cujos espermatozóides se movimentavam vivamente; na fêmea examinada em 27 de fevereiro encontraram-se ``ovários notavelmente grandes, com óvulos brancos do tamanho da cabeça dos menores alfinetes entomológicos, misturados a outros muito pequenos, muito mais numerosos, invisíveis a olho nu''. Reinhardt relata, em seguida, que a fêmea do lago anteriormente mencionada era relativamente mais curta e mais cheia que os ``mandis'' que habitavam o rio e tinha sua cabeça manchada, assim como o corpo, o que não é a regra entre estes; também a nadadeira adiposa era manchada. Reinhardt acredita que a longa permanência em águas paradas - porque podem passar vários anos sem que a lagoa se encha tanto que permita sua saída - pode explicar essas pequenas diferenças. Reinhardt ganhou depois um ``mandi'' (9 polegadas de tamanho) totalmente sem manchas e um menor com muito poucas manchas; e em duas fêmeas capturadas ao mesmo tempo no Rio das Velhas ele encontrou uma apreciável diferença nas proporções, já que ``a mais longa era relativamente mais fina e tinha o focinho mais largo, arredondado, um pouco obtuso, a menor, mais rechonchuda, tinha o corpo um pouco mais curto em relação à cabeça, e esta, sendo mais fina, terminava em um focinho fortemente curvado para frente; a diferença não era muito grande, mas bem apreciável, quando se comparavam os peixes diretamente um ao lado do outro''.

Finalmente, Reinhardt esclarece que ``a razão pela qual a barriga nos ``mandis'' capturados freqüentemente estivesse cheia de uma espécie de Polistes é que são freqüentemente pescados em armadilhas, nas quais se coloca como isca um ninho de vespas. Apesar do fato de este ficar na água, as pupas completam o seu desenvolvimento nas celas fechadas e amadurecem com o tempo; tão logo os ``mandis'' as percebem, entram nas armadilhas e as comem, à medida que estas vão saindo''. Reinhardt supõe, porém, que, embora raramente, também se poderiam encontrar Polistes em sua barriga sem a necessidade de ajuda humana, pois várias dessas vespas constroem seus ninhos no junco e, dessa forma, de vez em quando poderiam ser presas dos ``mandis''.



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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-05-21