O ano de 1968 foi marcado pela implementação da Reforma Universitária e pela criação do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), em 9 de dezembro.
Seu primeiro diretor (1968 a 1972) foi o professor Francisco Magalhães Gomes (foto), que também havia sido diretor do IPR, órgão que ajudou a fundar em 1953.
O ICEx agrupou os Departamentos de Física, Matemática e Química, tendo o professor Márcio Quintão como primeiro Chefe de Departamento de Física (DF).
O projeto da Reforma Universitária, aplicado nacionalmente, transformou o ensino superior no Brasil ao reestruturar e modernizar o ensino superior por meio de leis, alterando a organização administrativa e a estrutura física das universidades.
A UFMG foi pioneira na Reforma, ao iniciar o processo antes mesmo da imposição do Governo Militar vigente à época, em um esforço para potencializar a universidade como produtora de conhecimento.
Antes da Reforma
O sistema universitário no Brasil adotava, na época, um modelo estrutural de cátedras inspirado no ensino francês.
Esse modelo resultou numa precarização do ensino superior e insatisfação por parte dos professores que, depois de vivenciar experiências acadêmicas mais modernas no exterior, sentiam-se limitados pela estrutura catedrática.
As Universidades eram divididas por cátedras e campos de estudo, sem a estrutura departamental adotada hoje pelas instituições. O professor catedrático era selecionado por concurso público e ficava responsável por sua cátedra, com poder absoluto e vitalício de decisão.
Assim, seus professores assistentes e monitores eram selecionados a partir de critérios exclusivos do catedrático, sem haver troca de conhecimento, material ou discentes entre as cátedras, prejudicando a autonomia das instituições, centralizando recursos e consolidando por anos um modelo ultrapassado de ensino no país.
A implantação da reforma
Sob o Regime Militar, o então reitor da UFMG, Aluísio Pimenta, começou a instaurar reformas de acordo com o novo Estatuto Universitário, com o objetivo de modernizar a estrutura da universidade, promover uma maior articulação entre as unidades universitárias e fortalecer a administração central.
A proposta do Novo Estatuto, inspirado no modelo norte-americano e adotado pelo ex-reitor, aproximava-se muito da Reforma Universitária imposta pelos militares em 1968 por meio do Decreto nº 62.317. Apesar de seu mandato ter sido marcado pelos conflitos com os militares, a modernização e impulso da economia e ciência brasileiras eram objetivos comuns entre os projetos, o que fez da UFMG a primeira universidade a adotar a reforma do ensino superior no país.
Principais mudanças acarretadas pela Reforma Universitária:
- Extinção do sistema de cátedras, instituindo-se os departamentos;
- Unificação do vestibular;
- Aglutinação das faculdades em universidades, o que possibilitou melhor arrecadação de recursos;
- Criação do sistema de créditos, possibilitando a matrícula por disciplina;
- Nomeação de reitores e diretores;
- Criação do conselho de reitores;
- Advento do magistério e pós graduação.
Todas essas mudanças foram aceitas com muita resistência por boa parte dos catedráticos da UFMG, principalmente a respeito da transferência dos livros e outros itens de valor para os prédios recém construídos (os Institutos Centrais), cuja criação foi importante para fortalecer a administração e melhorar o desenvolvimento estrutural das universidades.
O Departamento de Física
Na UFMG, professores do Departamento de Física tiveram uma forte atuação no processo de modernização da Universidade em direção à Reforma Universitária.
Os reitores mais envolvidos diretamente com a Reforma, Aluísio Pimenta e seus sucessores Gerson Boson e Marcelo Coelho, tiveram uma relação próxima e colaborativa com os professores Ramayana Gazzinelli e Márcio Quintão. Ambos fizeram parte da construção do Estatuto Universitário e viveram a precariedade do ensino e pesquisa da Física no sistema catedrático, principalmente devido à grande centralização de recursos de mesma natureza (livros e equipamentos) em cátedras que não se comunicavam.
O grande interesse dos professores na unificação dos conhecimentos por meio da Reforma Universitária fez com que eles se empenhassem fortemente na sua realização, o que resultou na união dos Departamentos de Física, Matemática e Química no atual ICEx. O movimento foi crucial para o desenvolvimento das ciências exatas na Universidade Federal de Minas Gerais.