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16. Salminus Cuvieri e Hilarii Val.

Em um dos Salminus trazidos por Reinhardt com 1 1/2 pé de comprimento do Rio das Velhas, o comprimento da cabeça é igual à maior altura e maior que um quarto do comprimento até a raiz da nadadeira caudal, quer dizer, até a linha atrás da qual os raios da nadadeira caudal aparecem livres da cobertura de escamas, que, neste gênero, estende-se um tanto pelos seus lados; se o comprimento total é calculado até o entalhe da nadadeira caudal, o comprimento da cabeça é precisamente um quarto deste. A distância do início da nadadeira dorsal até os raios superiores que sustentam a nadadeira caudal é menor que a distância deste ponto até a ponta do focinho. Número de dentes nos diferentes ossos que os sustentam: em cada intermaxilar, na fileira exterior (pois há mais de uma), existem 6, em cada maxilar 33-36, em cada lado da maxila inferior 24-26; o segundo da frente em cada lado da maxila inferior é significativamente maior que os demais. O número de raios na nadadeira dorsal é 10 (2.8), na nadadeira anal 29 (3.26), o mais à frente curto144, na nadadeira peitoral 14-15, na nadadeira ventral 8 (1.7)145, na nadadeira caudal 25 (4.17.4). A nadadeira adiposa localiza-se logo acima do último raio da nadadeira anal. Na linha lateral contam-se cerca de 80 (mais precisamente talvez 78) escamas; mas uma contagem confiável é difícil, em parte porque a parte anterior da linha, fortemente virada para cima, é pouco nítida; ela se estende, assim como nas demais espécies de Salminus que tive oportunidade de ver, até a borda da nadadeira caudal146, onde esta, assim como em Brycon Lundii, causa um prolongamento dos raios medianos, de forma que o ponto médio da borda fortemente entalhada desta nadadeira avança um pouco. Contam-se cerca de 50 fileiras de escamas completamente redondas ao longo do corpo e 13 acima e 10 abaixo da linha lateral na parte anterior do corpo. As escamas são finamente sulcadas na área periférica de sua porção visível, já que as numerosas e pouco salientes estrias raiadas são ligadas, através de delicadas linhas transversais concêntricas, com a borda e estão bem próximas umas das outras. O diâmetro dos olhos é a metade da largura da testa, onde esta é mais larga, e é contido 6 1/2 vezes no comprimento da cabeça. O desenho é o comum: uma mancha escura na base de cada escama, formando, de cada lado do peixe, cerca de 15 linhas ou faixas interrompidas, ou pontilhadas ao longo do dorso e dos lados do peixe; a nadadeira caudal tem, como de costume, uma faixa escura no meio de ambos os lados da linha lateral, que é continuação de uma mancha escura na raiz da nadadeira, formada de 3 linhas que se unem ao longo do comprimento.

A pele de um Salminus do Rio São Francisco, com 15 1/2´´ de comprimento, concorda completamente, em todos os aspectos, com a descrição acima, desconsideradas algumas discrepâncias; ela possui 11 (2+9) raios na nadadeira dorsal, 3+25 ou 26 (?) na nadadeira anal, cerca de 78 escamas na linha lateral, 12 acima e 10 abaixo desta; o número de dentes é 6 no intermaxilar, 32-34 no maxilar, cerca de 22 em cada ramo da maxila inferior; a nadadeira caudal parece ser um pouco menos profundamente bifurcada, e sua parte mediana ou língua (correspondente à continuação da linha lateral) é um pouco mais nítida. - Eu acrescento a esses dois exemplares maiores um exemplar menor do Rio das Velhas (8 1/4 polegadas de comprimento), que não apresenta outras discrepâncias além de uma altura um pouco menor, claramente menor que o comprimento da cabeça, e, parece, uma nadadeira caudal mais entalhada147; a porção mediana dessa nadadeira é longa e estreita. As escamas nesta parte possuem outra aparência, sendo as estrias raiadas menos numerosas (cerca de 13), mais aparentes e apresentando pequenos sulcos, produzidas nos seus cruzamentos com as linhas concêntricas, que se estendem por sobre toda a parte visível da escama; mas também conto cerca de 80 escamas na linha lateral, 13 acima e 10-11 abaixo dela na parte anterior do corpo. Deve-se também notar que as escamas nesses peixes não são, de forma alguma, tão regularmente desenvolvidas e ordenadas na parte frontal do dorso que se possa dar algum peso ao fato de se contar uma fileira a mais ou a menos. O estriamento raiado dos ossos infra-orbital e do opérculo é muito menos característico que no exemplar maior. A nadadeira dorsal possui também aqui 11 (2.9) raios, a nadadeira anal somente 28 (3.25). As nadadeiras ventral e peitorais e a parte mais alta de frente da nadadeira anal são relativamente menos prolongadas que no exemplar maior, o que está bem de acordo com o fato de a nadadeira caudal ser mais curta e isto é somente um sinal de que o desenvolvimento corporal ainda foi não completado. No intermaxilar encontro 6 dentes, no maxilar 28-32, em cada lado da maxila inferior 22-24148.

A escassez de material obrigou-me a entrar em algum detalhe com relação a cada uma das três amostras mencionadas do Rio São Francisco e do Rio das Velhas. Certamente, não há dúvida de que eles pertencem a S. Cuvieri Val., que foram trazidos por A. de St. Hilaire do Rio São Francisco (um exemplar com 19 polegadas de tamanho) e por Hr. Cumberland do Rio Cipó149.

Do Rio das Velhas, Reinhardt trouxe também um segundo pequeno Salminus, exatamente do mesmo tamanho (8 1/4´´ que o menor S. Cuvieri mencionado acima; isto permite, portanto, fazer uma comparação muito melhor entre eles. Não pude encontrar qualquer diferença nas proporções; neste, o comprimento da cabeça é também algo maior que a maior altura do corpo, mas acima de um quarto do comprimento total até a raiz da nadadeira caudal (esta determinada do modo usual, como acima), e a distância do início da nadadeira dorsal até o raio de suporte superior da nadadeira caudal é menor que aquela do mesmo ponto até a ponta do focinho, de modo que também aqui a nadadeira dorsal se situa um pouco atrás da metade do corpo; a nadadeira caudal, como nos S. Cuvieri de meia-idade, parece ter tido150borda posterior com ponta saliente no meio menos arredondada que nos peixes adultos da espécie mencionada. A nadadeira adiposa situa-se nitidamente à frente, se comparada com S. Cuvieri, o que, entretanto, pode ser apenas uma peculiaridade individual. As estrias raiadas das escamas são aqui menos numerosas (6-10) que nos S. Cuvieri de meia-idade; mas algumas escamas possuem o mesmo número de estrias daqueles. A nadadeira dorsal tem também aqui 11 (2.9) raios, a nadadeira anal 27 (3.24)151. Dessa forma restam somente duas diferenças: o exemplar que dispomos possui dentes um pouco menores (como também Valenciennes relata para S. Hilarii), independentemente do fato de seu número ser aproximadamente o mesmo (6-7 em cada intermaxilar, 28-32 em cada maxilar e 23 em cada ramo da inferior) - e escamas maiores e conseqüentemente menos numerosas, mais especificamente 67 na linha lateral, 10 acima e 7 abaixo da mesma na parte anterior do corpo. Portanto, não resta qualquer dúvida de que este ``dourado'' é de uma espécie diferente daquela descrita anteriormente, e algumas discordâncias menos significativas com a descrição não poderiam levantar muitas dúvidas de que esta é a já conhecida S. Hilarii Val. do Rio São Francisco. Mas parece também que se tem de desistir das demais características escolhidas para diferenciar essas duas espécies (que definitivamente não pude confirmar) e ater-se somente às duas aqui salientadas: a diferença no tamanho dos dentes (que, entretanto, não se pode usar de forma absoluta) e a quantidade e tamanho das escamas, que podem ser expressos em números. Apesar do já afirmado, como esse resultado é baseado no exame de somente um único exemplar jovem de S. Hilarii, uma vez que não tive oportunidade de ver exemplares adultos desta espécie, não vou deixar de finalmente salientar, por ser algo possível, que o desenvolvimento das espécies não é sempre paralelo, e que adultos de S. Hilarii podem apresentar diferenças que desconheço em relação aos adultos de S. Cuvieri.

``Salminus Cuvieri viva é, de acordo com Reinhardt, adornada com cores magníficas. O dorso é cinza-esverdeado, mas, sob certa iluminação, um belo reflexo prata-azulado substitui completamente a verdadeira cor básica; cada uma das escamas é, além disso provida de uma pequena mancha negra, que em geral também se encontra nas escamas dos lados e só desaparece completamente mais abaixo em direção ao ventre, de modo que, ao longo do corpo, corre um certo número de fileiras paralelas de manchas, as quais se tornam cada vez mais pálidas e difusas, à medida que se aproximam do ventre. A cor básica dos lados é um brilho prateado, mas a mancha negra acima mencionada, com a qual cada escama é adornada, é circundada de uma borda dourada ou, pode-se dizer, está situada sobre uma base dourada, e, como conseqüência, espalha-se por sobre os lados um reflexo dourado, que pode, quando o peixe é visto de certos ângulos, substituir quase completamente o brilho prateado; para baixo, em direção ao ventre, a base dourada das manchas aumenta em tamanho, mas logo perde completamente seu brilho metálico, de modo que uma cor alaranjada é dominante na parte mais baixa dos lados do corpo. Na altura das bases das nadadeiras peitorais e ventrais, a cor amarela desaparece muito abruptamente e o ventre adquire, em uma largura que corresponde ao espaço entre as nadadeiras pares, uma bela cor branco-madrepérola, que também se estende pela superfície de baixo da cabeça e da cauda. A superfície da testa possui a cor do dorso, mas falta o brilho prateado; os ossos da órbita são na sua metade superior branco-prateados, para baixo o brilho prateado é substituído por um tom amarelado, e isso acontece ainda com maior intensidade na abertura branquial, onde a cor na parte de baixo quase se transforma em vermelho-alaranjado. A parte superior da córnea é de brilho prateado, somente mais próximo da negra pupila ela assume um tom cobre-avermelhado. A nadadeira dorsal é verde-oliva na parte de cima, com uma borda de um pálido vermelho-carmim; a nadadeira adiposa é igualmente verde-oliva, mas mais clara. As nadadeiras pares e a nadadeira anal possuem uma magnífica cor vermelho-alaranjada, a qual, em direção à ponta das primeiras e ao longo da borda da última, transforma-se em vermelho-sangue; embora se encontrem também indivíduos nos quais essas nadadeiras são amarelo-alaranjadas. A maior parte da nadadeira caudal é amarelo-alaranjada, mas em direção à sua borda a cor se torna pouco a pouco vermelho-sangue, com o que se forma uma borda dessa cor, de limites indefinidos, em torno da nadadeira; através da sua porção mediana passa finalmente uma faixa preta de 2-3 linhas152de largura, que na realidade é uma continuação de uma mancha preta da cauda, perto da raiz da nadadeira caudal''. O exemplar a que a descrição acima se refere foi capturado em 26 de setembro. Em um outro capturado em 13 de fevereiro, um macho jovem de 14 polegadas de comprimento com testículos intumescidos de sêmen, as cores eram menos espetaculares: ``As nadadeiras peitorais, ventrais e anal eram amarelo-alaranjadas, e não vermelho-alaranjadas; e o exemplar jovem mencionado anteriormente de 8 1/4 polegadas de comprimento (capturado em 27 de maio) possuía cores ainda menos vivas; a nadadeira anal era amarelo-alaranjada com algum vermelho na parte da frente, as nadadeiras ventrais e peitorais eram também amarelas com as pontas vermelhas; a nadadeira caudal, ao contrário, era como no exemplar grande. Os lados do corpo com brilho prateado, o ventre também, somente mais fraco; os lados não tinham traços do brilho dourado''.

Salminus Cuvieri atinge até 4 pés de comprimento e é o maior Characini da parte da Província de Minas Gerais onde Reinhardt ficou; é freqüente tanto no Rio das Velhas como nos seus maiores afluentes, mas não ocorre nos lagos e em águas paradas. Com um tamanho de 14 polegadas, já é reprodutor, e em meados de fevereiro encontra-se com órgãos sexuais tão significantemente desenvolvidos que se pode com razão considerar que a época de reprodução ocorre no final de março ou início de abril. Possui carne especialmente saborosa e é dos peixes mais valorizados. Reinhardt nunca ouviu nenhum nome guarani para ele, ao contrário, tanto esta como as espécies próximas recebem em toda Minas e, pelo que parece, numa grande parte do Brasil o nome ``dourado'', uma denominação que os imigrantes portugueses trouxeram de sua terra natal e, naquele tempo, transferiram para esses peixes em virtude de seu jogo de cores.

Com relação à denominação sistemática da espécie, para a qual Günther registrou o ``brevidens'' de Cuvier, que Valenciennes153(em verdade, por razões pouco relevantes) tinha sugerido, tenho a observar, junto com o Prof. Reinhardt, que Salminus Cuvieri Val. não pode ser o Hydrocyon brevidens de Cuvier, que, de acordo com a descrição original, tem mais de 100 escamas ao longo da linha lateral e 30 na altura, sendo, portanto, mais provavelmente idêntico à espécie que vive no Rio da Prata154. Valenciennes não menciona nem uma palavra sobre a diferença entre o pequeno exemplar mutilado do Gabinete em Ajuda155e aquele trazido por St. Hilaire, devendo, pois, tê-lo ignorado completamente.



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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-06-20