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15. Brycon Lundii Rhdt. e B. Reinhardti Ltk.

Existem no Rio das Velhas duas espécies de Brycon, uma maior, chamada ``matrinchã''138, e uma menor, que se chama ``peripitinga''139. Desta última existe uma série de 10 exemplares, dos quais o maior tem um comprimento total de aproximadamente oito polegadas e meia até a ponta da nadadeira caudal. Da espécie maior, o Prof. Reinhardt trouxe somente um exemplar de quinze polegadas e meia até a ponta da nadadeira caudal, que, devido às condições em que foi guardado140, não está no melhor estado de conservação; entretanto Reinhardt pôde fazer a ilustração que aparece mais adiante, e, dentre alguns dos peixes coletados pelo Dr. P. W. Lund, felizmente existia um exemplar algo mais jovem (dez polegadas e meia de comprimento), o que possibilitou uma comparação direta muito melhor entre as duas espécies que vivem no Rio das Velhas.

A ``peripetinga'' (Brycon Reinhardti m.) tem um corpo bem alongado; a altura é contida nos exemplares menores quase 4, nos maiores somente 3 1/2 vezes no comprimento total, calculado da ponta do focinho até o ponto no lado da nadadeira caudal onde termina a cobertura de escamas, e nos exemplares menores a altura é menor, nos de tamanho médio do mesmo tamanho e nos maiores maior que o comprimento da cabeça, que é contido 3 1/2 vezes nos exemplares menores e nos exemplares maiores quase 4 vezes no comprimento total mencionado acima. O diâmetro dos olhos é contido 1 1/2 vez tanto na largura da testa, muito plana, como na distância entre o olho e a borda de trás do opérculo, mas 4 vezes no comprimento da cabeça nos mais jovens e 5 nos mais velhos. A extremidade do osso maxilar (em comparação com B. Lundii) é mais larga e arredondada e alcança até abaixo da parte anterior do olho, nos mais jovens até uma linha vertical traçada da parte anterior da pupila. Contam-se cerca de 50 (50-52) escamas na linha lateral e, em geral, 9 fileiras de escamas acima e 6 abaixo desta, de cada lado da parte anterior do corpo, além daquelas que ocupam a linha medial do dorso e do ventre. Nos exemplares menores, a constituição da linha lateral é bastante simples, quer dizer, encontra-se em cada uma de suas escamas no máximo um curto tubo dobrado para baixo; mas nos maiores ela é mais ou menos ramificada, ou seja, partida em 2, 3, 4, no máximo 5 ramos curtos bloqueados; a linha lateral continua um pouco além da cobertura de escamas na pele macia da nadadeira caudal, até alcançar ou superar a metade da distância até o entalhe da nadadeira. A nadadeira dorsal situa-se logo acima do espaço entre as nadadeiras ventrais e a anal, igualmente distante de ambas, e igualmente distante da nuca e da raiz da nadadeira caudal, de modo que a distância entre o raio mais à frente da nadadeira dorsal até a ponta do ângulo da nuca é igual à distância do último raio da nadadeira dorsal até a raiz do curto raio superior da nadadeira caudal. O comprimento da nadadeira dorsal é contido uma vez e meia em sua altura; sua distância da nadadeira adiposa é igual, ou um pouco maior que o comprimento da nadadeira anal, mas algo menor que o da cabeça. As pontas das nadadeiras ventrais alcançam até o ânus; as nadadeiras peitorais além da metade da sua distância até as nadadeiras ventrais; a nadadeira anal é mais alta à frente que em sua parte traseira, mas não é desenvolvida em ponta; seu maior raio é tão longo quanto o comprimento da nadadeira dorsal. A nadadeira caudal é profundamente bifurcada, seus raios medianos não são alongados. Número de raios: D.: 11 (2.9); P.: 14-15; V.: 8141; A.: 3.21 (22). Uma mancha negra bastante grande ocupa a raiz da nadadeira caudal de cada lado e prolonga-se para trás como uma faixa preta até sua incisão; nos exemplares mais jovens, vê-se nitidamente um traço de uma sombra negra na ponta das nadadeiras dorsal e anal, que, entretanto, não aparece quando essas nadadeiras são dobradas. ``No peixe vivo o dorso, de acordo com Reinhardt, é de um azul-acinzentado ou cinza-esverdeado escuro, que nos lados e ventre se transforma em branco-prateado; a pele que liga os raios das nadadeiras caudal e anal é enegrecida; ao contrário, as nadadeiras ventrais são completamente transparentes e sem cor, e as nadadeiras peitorais têm somente aqui e ali alguns poucos pontos pretos ou respingos''.

A ``matrinchã'' (Brycon Lundii Rhdt.) está longe de ser tão alongada como a ``peripetinga''; a altura é contida somente 3 vezes ou um pouco mais no comprimento total (medido do modo acima); o comprimento da cabeça, ao contrário, 4 1/2 vezes no mesmo comprimento total, 5 vezes quando este se mede até o meio da borda traseira da nadadeira caudal. Comparando-se com a ``peripitinga'', a cabeça mostra-se curta e alta em B. Lundii, relativamente afilada e longa em B. Reinhardti; a

\begin{figure}\noindent{\epsfxsize =\hsize\epsfbox{PEIXE12.PS}}\end{figure}

testa na primeira é relativamente larga e fortemente arqueada, sua largura maior que a distância da borda dos olhos até a abertura branquial e duas vezes maior que o diâmetro dos olhos, que é contido mais de 4 vezes no comprimento da cabeça; o olho fica na metade de baixo do lado da cabeça, nos B. Reinhardti acima da metade do mesmo. A extremidade do osso maxilar é pontuda e estreita e alcança uma linha vertical traçada da borda anterior do olho142. A escultura das escamas é um tanto diferente daquela da ``peripitinga''; numerosas linhas convergem na espécie maior, mais ou menos nitidamente, em direção à borda da parte descoberta da escama; a espécie menor tem muito menos dessas linhas, as quais divergem mais que convergem, pelo menos nas escamas do dorso; para baixo, em direção aos lados e no ventre, poder-se-ia também considerar que possuem um padrão mais convergente. Na linha lateral, que como em B. Lundii começa bem alto perto da nuca, várias fileiras de escamas acima da extremidade superior da abertura branquial, e na sua parte mais anterior acompanha de perto o arco da região escapular, conto cerca de 60 (59-61) escamas, acima dela 11, abaixo aproximadamente 8 fileiras de escamas, na parte frontal do corpo; em cada escama a linha lateral forma como que uma árvore fortemente ramificada que se alarga por quase toda sua superfície e continua até a borda de trás da nadadeira caudal; esta nadadeira não é tão fortemente bifurcada como na ``peripetinga'' e seus raios medianos são um pouco maiores. A distância da nadadeira dorsal até a nuca é um pouco mais curta que dela até a raiz da nadadeira caudal. A distância da nadadeira dorsal até a nadadeira adiposa é um pouco menor que o comprimento da nadadeira anal, mas muito maior que o da cabeça. A nadadeira anal é, à frente, menos alta que o comprimento da nadadeira dorsal. Número de raios: D.: 11 (2.9); A.: 3.39 (27); P.: 14-15; V.: 8 (7); C.: 5.17.5. O exemplar menor possui a mancha preta e sua faixa na cauda e na nadadeira caudal; no exemplar maior estas desaparecem. ``A cor do dorso da ``matrinchã'' viva, dependendo da posição, parece ser de um verde ou azul vivos; o lado do ventre é branco; as nadadeiras anal e caudal possuem uma bela e viva cor vermelha, que aumenta em intensidade em direção à ponta das nadadeiras; a nadadeira caudal possui, além disso, uma faixa verde-oliva ao longo do comprimento. Também as demais nadadeiras raiadas possuem um tom avermelhado em direção à ponta, embora mais fraco. O opérculo é verde na parte de cima; o pre-opérculo branco-prateado à frente e vermelho como flor de pêssego atrás''. O estômago, em dois dos exemplares examinados por Reinhardt, estava cheio de material vegetal, sementes e coisas similares.

Algumas das diferenças mencionadas aqui são certamente do tipo que, em parte, poder-se ia pensar serem devidas a diferenças de idade, mas somente para uma parte menor delas. O número diferente de escamas e sua escultura, o número de raios na nadadeira anal, a forma distinta da maxila superior, etc. demonstram, sem qualquer dúvida, que a ``peripitinga'' e a ``matrinchã'' são espécies bem distintas. Também não há razão para estabelecer relações de nenhuma delas com B. Hilarii, independentemente de esta ter sido trazida do Rio São Francisco por St. Hilaire; pois esta espécie possui 80 (76-80) escamas na linha lateral e 16-17 fileiras acima desta na parte anterior do corpo. Entretanto, poderia ser possível que B. Lundii fosse fundida com B. orthotænia Gthr., que foi descrita (Cat. V. p. 335) a partir da pele de um peixe de 16 polegadas que Ch. Cumberland trouxe do rio Cipó, o qual os moradores chamavam de ``matrinxim''; a contagem de somente 53 escamas na linha lateral pode ser explicada pelo fato de aquelas que formam sua porção elevada, ao longo do arco da região escapular, não terem sido contadas, intencional ou involuntariamente; a falta da fileira interna dos dentes da maxila inferior pode se dever ao fato de terem caído durante a preparação. Estas são, porém, as únicas discrepâncias entre B. Lundii e B. orthotænia nas quais eu poria um peso maior - faço aqui referência à descrição de Günther, sem discutir mais detalhadamente as outras diferenças menos importantes - e se o futuro não confirmar a existência dessas diferenças, eu as consideraria como idênticas. - Também poderia, de certo modo, ser o caso de procurar-se B. carpophagus Val. entre as duas espécies aqui descritas do Rio das Velhas, desde que Castelnau (obra citada p. 68) indica que a ``observou'' no Rio de Sabará, em Minas Gerais. A espécie é proposta por Valenciennes (``hist. nat. d. poiss.'' XXII, p. 252) a partir de exemplares de Essequibo (por Schomburgk), mas Valenciennes menciona, ainda, que ele a obteve do Rio Amazonas de Montravel e Castelnau; como o último não menciona ter obtido o exemplar no Rio Amazonas ou em algum de seus afluentes, possivelmente uma ou outra dessas afirmações - sobre o coletor ou sobre o local da coleta - é devida a um engano ou mal-entendido. Em todo caso, a figura de Castelnau (prancha 34, fig. 3) não corresponde - sua descrição menciona somente a distribuição das cores - à descrição de Valenciennes, de acordo com a qual a altura deveria ser contida 3 vezes no comprimento total, enquanto a ilustração mostra uma relação de 1:3 1/2 143; talvez menor peso se possa atribuir ao fato de que a nadadeira caudal seja retratada com o bordo posterior fortemente arredondado e seja descrita por Valenciennes como ``quase nada entalhada''. Se se considera que Castelnau fez sua ilustração de uma espécie que também ocorre no Rio das Velhas, uma vez que ela ocorre no Rio Sabará, então há que se observar que ela não concorda bem com nenhuma das espécies que conheço do Rio das Velhas; com B. Lundii (da qual ``Chalceus carpophagus'' de Valenciennes parece estar mais próximo) não concorda na forma do corpo, no fraco arqueamento da linha lateral ou no número de raios da nadadeira anal, - com B. Reinhardti não concorda na forma da nadadeira caudal (fortemente bifurcada) ou na aparência da linha lateral fortemente ramificada; e nem na posição da nadadeira dorsal, que é distinta do que deveria ser. Por enquanto há que se considerar que no Rio São Francisco vive ainda uma terceira (ou quarta) espécie diferente das aqui descritas, ou que o Chalceus carpophagus de Castelnau, apesar de tudo, coincida com uma delas. Não há razão para relacionar qualquer das duas espécies aqui descritas a Ch. carpophagus de Castelnau.



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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-06-20