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_____________________________________________14 de novembro de 2011

Caros Amigos da Cosmologia,

O meu ex-aluno Johannes Medeiros, que recebe COSMOS desde 2003, quando fez o curso comigo, mandou-me uma notícia muito interessante a respeito da “disputa” entre Padre Lemaître e Hubble sobre a primazia a respeito da descoberta da expansão do universo. Como já disse, esta pseudo-disputa é irrelevante, já que a expansão do universo é apenas uma hipótese de trabalho de algumas teorias cosmológicas, ainda sem comprovação. Mas vamos lá, e de antemão agradeço ao Johannes por mandar a notícia.

Trata-se da descoberta, feita pelo astrônomo Mario Livio, de um texto do próprio Padre Lemaître em que ele afirma ter sido ele mesmo quem fez a tradução de seu artigo, sobre os modelos cosmológicos de expansão, do francês — o Padre era belga — para o inglês, e que fora ele mesmo quem retirara as frases a respeito da hipótese da expansão, inocentando, assim, Hubble frente aos seus detratores.

Para quem não se lembra desta discussão, veja COSMOS:02jun11 e COSMOS:01jul11.

Johannes enviou um recorte de Folha.com. Vejam em Lemaître versus Hubble.

Reproduzo, abaixo, a parte mais interessante do texto de Folha.com:

14/11/2011 - 07h10
Carta inocenta físico de usurpar descoberta sobre o Universo

RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON

Uma carta achada nos arquivos da Real Sociedade Astronômica britânica pôs fim a acusações que vinham manchando o nome de um dos cientistas mais importantes da história.

O documento absolve Edwin Hubble (1889-1953) de ter tentado roubar do padre belga Georges Lemaître (1894-1966) o mérito por mostrar que o Universo está em expansão.

Hubble, americano mais conhecido por ter um telescópio espacial com seu nome, geralmente recebe o crédito pela descoberta, anunciada em 1929. Dois anos antes, porém, Lemaître chegara à mesma conclusão.

Pesquisadores sugeriam que a disputa por primazia tinha envolvido desonestidade por parte de Hubble, mas uma carta de Lemaître, descoberta pelo historiador e astrônomo Mario Livio, contraria essa ideia.

Hubble costuma ser citado como autor da descoberta porque seus cálculos lhe permitiram chegar à conclusão sem muita margem para dúvida.

O belga fora o primeiro a sugerir que o Cosmo estava se expandindo, mas sua estimativa da taxa de expansão era mais imprecisa. Antes de 1930, um não conhecia o trabalho do outro.

Uma hipótese que surgiu recentemente é a de que, depois disso, Hubble teria tentado atrapalhar a divulgação dos trabalhos de Lemaître. Uma aparente pista era uma tradução do estudo do padre feita para o inglês, em 1931, em que as partes mais importantes do trabalho haviam sido apagadas.

BRUXELAS

O artigo original, publicado nos "Anais da Sociedade Científica de Bruxelas", falava abertamente sobre o Universo em expansão.

A tradução do artigo para o inglês na renomada revista "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society", porém, tinha equações faltando, e a principal referência ao Universo em expansão sumira.

"Parece que o tradutor do artigo de Lemaître de 1927 apagou deliberadamente essas partes do texto", escreveu Sidney Van Den Bergh, astrônomo do Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá, num artigo em que analisou as duas versões.

Essa sabotagem, porém, era só aparente. Na carta de 1931 descoberta por Livio, Lemaître se dirige ao editor da revista inglesa se identificando como autor da tradução. Diz ter modificado o original apenas porque gostaria de apresentar a ideia da expansão do Universo separadamente, em um outro estudo, mais detalhado.

Naquele ano, ele já havia compreendido a principal implicação de sua descoberta: o Big Bang, a explosão que deu origem ao Cosmo.

"Tenho a impressão de que Lemaître era mesmo uma pessoa bastante modesta", disse Livio à Folha. "Certamente ele não estava obcecado com a primazia."

Na opinião do astrofísico historiador, o crédito deveria ser compartilhado. A carta reveladora foi enfim publicada na revista "Nature", e Van Den Bergh elogiou o "trabalho de detetive" de Livio. Mas ele defende que Lemaître detenha sozinho a primazia pela descoberta, e discorda que fosse "desapegado" com relação a essa questão.

"Em 1961, Lemaître me contou que, por ser padre, sentia certo viés em favor da ideia de que o Universo tinha sido criado", disse. "Deve ter sido, portanto, um prazer especial para ele ter sido o primeiro nesse quesito", diz Van Den Bergh.

(...)

Um abraço a todos.

Saudações Cosmológicas,

Domingos

PS (15 de novembro de 2011): Para aqueles interessados, o artigo de Mario Livio publicado no número de 10 de novembro de 2011 da revista Nature está disponível em Mario Livio, e o editorial da revista a respeito do artigo está em Mario Livio/editorial. Da leitura dos dois textos, eu fiquei com a impressão de que o Padre, pressionado pela vaidade imediata de ser admitido na Royal Astronomical Society, deixou de registrar as suas idéias, em favor de Hubble. E especulando, talvez ele tenha sido pressionado, de forma indireta, por Eddington, o qual é sabidamente indivíduo de carácter complexo, beirando à megalomania — científica, no caso. Não se esqueçam de sua atuação no famoso caso da “confirmação” da Teoria da Relatividade Geral em 1919, que foi, praticamente, imposta por ele. Quem estiver interessado neste último assunto coloque “Sobral” na caixa de Procura em COSMOS, e aparecerão vários textos tratando do tema.

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Domingos Sávio de Lima Soares
Página Pessoal
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