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_____________________________________________02 de junho de 2011
Caros Amigos da Cosmologia,
80 anos do annus mirabilis do cosmólogo — e padre católico — belga Georges Lemaître!
Quem chama a atenção para o fato acima é o cosmólogo francês Jean-Pierre Luminet, admirador entusiasmado de Lemaître (Luminet já apareceu em COSMOS:27abr07).
O ano de 1931 foi caracterizado pela publicação de várias “pérolas” — termo usado por Luminet — científicas de autoria de Padre Lemaître.
O artigo em que Luminet expõe estas idéias é :
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Abstract: This is an editorial note to accompany reprinting as a Golden
Oldie in the Journal of General Relativity and Gravitation of the famous
note by Georges Lemaitre on the quantum birth of the universe, published
in Nature in 1931. We explain why this short (457 words) article can be
considered to be the true “Charter” of the modern Big Bang theory.
Title: Editorial note to “The beginning of the world from the point of view
of quantum theory”
Authors: Jean-Pierre Luminet
(Submitted on 31 May 2011)
O artigo está disponível em arxiv.org/abs/1105.6271.
A mais bela pérola entre as pérolas de 1931 é o artigo intitulado “The beginning of the world from the point of view of quantum theory” em Nature, no número de 21 de março de 1931.
Devido ao potencial interesse público e ao seu caráter não-técnico, este artigo foi reproduzido quase na íntegra no jornal New York Times de 19 de maio de 1931, informa Luminet.
O artigo tem apenas 457 palavras, equivalente a cerca de 3200 caracteres incluindo espaços. Lembrem-se de que os “Ensaios de Cosmologia” daqueles que foram meus alunos (veja lista completa em ensaios-tot.htm) deveriam ter cerca de 6800 caracteres, ou seja, pouco mais do dobro do artigo que Luminet considera a verdadeira “Carta Magna” da teoria do Estrondão Quente — a popular teoria do Big Bang!
Luminet me pareceu exagerado em demasia na sua admiração por Lemaître. Isto é perigoso e pode levar a erros de interpretação histórica.
Fatos que ele ressalta como qualidades de Lemaître e que parecem ser consenso entre os estudiosos:
1) Ele sempre sentiu a necessidade de confrontar as observações
astronômicas e a teoria, no caso, a Relatividade Geral (RG);
2) Obteve, independente de Friedmann, as soluções dinâmicas da RG
aplicadas ao fluido cósmico;
3) Interpretou os desvios para o vermelho das galáxias como uma manifestação
da expansão do espaço e não como devido ao movimento próprio das galáxias
(a propósito, Luminet atribui esta interpretação, qual seja, a do efeito Doppler,
a Hubble, o que não é inteiramente verdadeiro);
4) Apesar de padre da igreja católica, Lemaître procurou nunca confundir —
segundo Luminet, ele NUNCA confundiu — ciência com religião. Lemaître,
aparentemente, estava convencido de que ciência e religião tratam de dois
mundos separados. Incidentemente, esta sempre foi a posição que procurei
defender em minhas aulas de cosmologia, quando a situação exigiu.
Curiosamente, um de meus melhores alunos de Introdução à Cosmologia
era — e muito provavelmente ainda é — evangélico.
Há muito mais no artigo de Luminet, são 16 páginas de “louvação” a Lemaître
e de detalhamento de seu pensamento. Lemaître foi orientado por Eddington.
O relacionamento científico entre os dois aparece também no artigo de Luminet.
Recomendo a leitura mas não o “culto à personalidade” exercitado por Luminet. Isto nunca é bom pois cega o entendimento do quadro mais geral.
Um abraço a todos.
Saudações Cosmológicas,
Domingos
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Domingos Sávio de Lima Soares
Página Pessoal
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