Beatriz Gonçalves de Alvarenga

“Fico ansiosa porque acho que já deveria ter aparecido alguma coisa melhor. Precisamos de renovação.”

Nascida em Santa Maria de Itabira no dia 02 de janeiro de 1923, Beatriz cursou o primário no Grupo Escolar Coronel José Batista na cidade de Itabira entre os anos de 1930 a 1933.

Ávida por conhecimento, seguiu seus estudos concluindo o ginasial no Colégio Santa Maria, na cidade de Belo Horizonte, de 1934 a 1939.

Nos dois anos seguintes, Beatriz Alvarenga frequenta o Curso Complementar, na Escola de Engenharia da UMG – a então Universidade de Minas Gerais, que se tornaria a UFMG. Concluindo sua formação em 1941.

Foi aluna de Engenharia Civil na Escola de Engenharia da UMG, de 1942 a 1946, sendo a única mulher da turma.

PIONEIRA

A ÚNICA MULHER DA TURMA

Pioneira e determinada, graduou-se em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia da UMG, entre os anos 1942 a 1946. Beatriz escrevia um legado, sendo a única mulher presente naquela turma.

Beatriz_Alvarenga

Beatriz participou da primeira turma do Curso de Aperfeiçoamento de professores de Física do Ensino Médio  no ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, em São José dos Campos, em 1951. Compartilhou essa experiência com o Professor José Israel Vargas e durante o curso teve contato com os físicos Richard Feynmann, Leite Lopes e Jayme Tiomno.

Em 1957, a professora torna-se Livre Docente pela Escola de Farmácia da UMG.

Foi uma das representantes mineiras no Projeto Piloto da UNESCO, na USP em 1959, e do Curso de Professores de Física, oferecido pela AAPT (American Association of Physics Teachers), nos EUA, quando teve contato com o material do PSSC (Physical Science Study Committee).

“Essa mineira de Santa Maria de Itabira tinha vocação especial para a educação. Mais exatamente para o ensino de uma disciplina complexa, a Física. Beatriz Alvarenga marcou época no Colégio Estadual Central de Belo Horizonte. Lá influenciou alunos que se transformaram em pesquisadores brilhantes, como o físico Ramayana Gazzinelli. Por causa dessa passagem pelo Colégio, foi convidada para ingressar na Universidade: seus alunos de ensino médio não admitiam a hipótese de estudar sem a mestra e elaboraram um abaixo-assinado propondo que ela fosse admitida nos quadros da Universidade.”  Boletim da UFMG, N.1580, 2007 (leia o trecho na íntegra)

 

Reconhecida em 1989 com o título de Professora Emérita do Instituto de Ciências Exatas da UFMG – ICEx.

Beatriz recebe essa importante e singela homenagem de reconhecimento da instituição que ela própria participou da estruturação.

“Desde o começo da faculdade eu dava aulas. É o que sempre gostei de fazer.”

Exerceu o magistério, uma de suas grandes paixões, lecionando matemática e física nas seguintes instituições: Colégio Santa Maria, Colégio Estadual Central, Colégio Municipal, Faculdade de Farmácia, Escola de Engenharia, Colégio Universitário da UFMG.

Após a reforma universitária de 1968, passou a exercer suas atividades docentes, em tempo integral e dedicação exclusiva, no Departamento de Física/ICEX, então criado na UFMG.

A década que mudou o ensino no Brasil

Na década de 70, Beatriz Alvarenga cria o Grupo de Ensino de Física na UFMG desenvolvendo o Projeto de Melhoria do Ensino de Física no Nível Médio para a SEE/MG.

Durante esse período, foi iniciado um processo de reformulação do ensino de Física Geral no ICEx, Beatriz era parte fundamental dessa revolução que seria o embrião para a área de pesquisa em Ensino de Física na UFMG.

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Em 1973, junto com os profs. Antônio Máximo R. da Luz, Jésus de Oliveira e Márcio Quintão Moreno traduziu os quatro volumes da coleção Física, de Resnick e Halliday.

coleção profa Beatriz e Antônio Maximo

No ano de 1988, a professora Beatriz Alvarenga aposenta-se, mas não se afasta do ambiente acadêmico. Continuando sua carreira e contribuições incalculáveis ao ensino.

É autora, junto com o Professor Antônio Máximo Ribeiro da Luz, do livro texto mundialmente conhecido “Física” (3 volumes, em impressões sucessivas, desde seu lançamento em 1969).

Destinada ao ensino de Física no ensino médio, esta obra teve inúmeras revisões:

  • Curso de Física – 1979
  • Física – volume único – 2007 
  • Física contexto e aplicações – 2011  

Esse livro foi traduzido para o espanhol, publicado em 1978 no México pela Oxford University Press, sendo distribuída também em vários outros países da América Latina.

Capas de uma das primeiras edições do livro Física.

Em 2006 a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, lança o documentário Memória e Poder, contando a história de Beatriz Alvarenga.
Assista abaixo ao vídeo ou acesse a página da Assembleia Legislativa clicando aqui.

“A maioria dos professores ainda ensina física de forma muito matemática, com fórmulas e pouca aplicação prática. Mas essa é uma disciplina que está presente em cada momento da nossa vida, que explica tudo que fazemos”

  Professora Beatriz Alvarenga

A competência profissional de Beatriz Alvarenga vai além das salas de aula, sempre visionária e dedicada às melhorias no ensino, a professora deixou sua marca nas mais importantes organizações por onde passou.

Exerceu a Secretaria de Ensino da Sociedade Brasileira de Física nos anos1971 a 1973 e foi vice-presidente dessa Sociedade entre julho de 1975 a julho de 1977.

De 1979 a 1981, foi Secretária Regional da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Além de coordenar o 2º e o 5º SNEF – Simpósios Nacionais de Ensino de Física, realizados em Belo Horizonte, em 1973 e em 1982. 

“Ela vive o ensino 24 horas por dia e passou a vida inteira querendo ver a educação melhorar”

afirma o amigo Antônio Máximo

Beatriz vivia o que sonhava, fazia da sua paixão pela educação a força motriz de seus projetos. Ousada e competente, organizou o V SBPC Jovem, em Belo Horizonte no ano de  1997.

Idealizadora, organizadora e coordenadora da 1ª Reunião da UFMG Jovem, em 1999, também coordenou as reuniões de 2000 e 2001. Essa reunião completou a 23ª edição em setembro de 2022.

Mesmo após sua aposentada, lutou em favor da melhoria do ensino em todo o país e pela divulgação da ciência, continuando a colaborar com diversos órgãos governamentais – MEC, CAPES, CNPQ, Secretarias Estadual e Municipal de Educação, Conselho Estadual de Educação de MG – e em várias universidades e outros estabelecimentos de ensino para os quais era frequentemente convidada a ministrar cursos, conferências e palestras.

A seguir o  vídeo da memorável palestra realizada no  Instituto de Física da USP/São Carlos em 2002, ministrada pela professora Beatriz Alvarenga.

Não bastasse a sua total doação, realizou importante trabalho voluntário para a divulgação da ciência e assistência aos professores desta área do conhecimento. 

Para concretizar esta contribuição, criou, com seus próprios recursos, um espaço onde recebia professores e estudantes, disponibilizando-lhes a sua Biblioteca, especializada na Divulgação e Ensino de Física, e equipamentos diversos que sugeria serem usados em demonstrações experimentais alternativas, visando tornar a própria divulgação e o ensino elementar de Física mais atrativos.