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1. Macrodon trahira Spix.


Na Lagoa Santa, em várias outras pequenas lagoas da sua região, e em riachos que deságuam no Rio das Velhas, tanto quanto neste próprio, ocorre uma ``traíra'' da qual Reinhardt trouxe um grande número de exemplares; o maior tem 14 1/2 polegadas90 e o menor, 2 1/2 polegadas de comprimento. Este Macrodon, que ocorre no Estado de Minas Gerais e no Rio São Francisco, já foi descrito por Agassiz como Erythrinus macrodon e E. microcephalus91, por Valenciennes como M. trahira, por Castelnau como Erythrinus macrodon brasiliensis e por Günther como M. intermedius (do Rio Cipó92). Não tenho dúvidas de que sob todos esses nomes deve haver somente uma espécie, que eu suponho seja mais correto denominar como acima. Não posso distinguir exemplares do Rio de Janeiro, Cotinguiba (Província de Sergipe), Venezuela, Guiana e Trinidad (M. ferox Gill) daquela forma que ocorre na Lagoa Santa e no Rio das Velhas; a espécie tem assim uma ampla distribuição na América do Sul93.

Para melhor fundamentar essa interpretação, bastará indicar que na maioria dos exemplares com referência na literatura conhecida, o comprimento da cabeça (a membrana branquial incluída) é aproximadamente igual a um terço (muito pouco mais ou menos) do comprimento total, quando neste não se considera a nadadeira caudal, e esta é igual (muito pouco maior ou menor) à distância dos olhos à abertura branquial ( \begin{figure}{\epsfxsize =8pt\epsfbox{na.ps}}
\end{figure}  até à borda livre da membrana branquial); mas encontram-se também, além de formas intermediárias, alguns exemplares mais alongados, com cabeça relativamente menor, cujo comprimento em relação ao comprimento total (considerado do modo acima mencionado) é de 1:3 1/5, 3 1/3 ou 3 2/5. Um pouco à frente da nadadeira dorsal, contam-se em geral 12 séries de escamas através do dorso, de uma série de escamas da linha lateral até a outra (estas não consideradas), raramente 11 ou 13; mas há casos também em que se podem contar 12 ou 13, pois, freqüentemente, a parte escamosa do dorso mais próxima da frente da nadadeira dorsal é disposta de forma irregular. Atrás da nadadeira dorsal, ao contrário, contam-se sempre 9 séries de escamas. A que contém os poros da linha lateral possui mais freqüentemente 41 ou 42 escamas, quando se incluem as duas ou três primeiras, nas quais nenhum poro é visível, mas que apesar disso, por seu posicionamento, têm de ser consideradas como a parte inicial da série; mas o número pode também aumentar para 46-47 ou baixar para 39-40. Número de raios: D.: 14 [13, 15]94, os 2 ou 3 da frente não divididos (3+11, 3+10, 2+12 ou 3+12); P.: 13-14 [12, 15]; V.: 8, A.: 11-12 (3+9 ou 2+9) (quando há 3 não bifurcados, o da frente é muito curto); C: 17 (raramente 18; os curtos raios de cima e de baixo não incluídos).

Disso fica evidente que, utilizando a descrição de Günther, não posso distinguir entre duas espécies, uma que tem 12, e outra que tem 13 séries de escamas acima da linha lateral, na parte superior do corpo, uma com 38-39, outra com 4395 escamas na linha lateral. Portanto, no material disponível (21 exemplares), não posso distinguir ``M. trahira'' de ``M. intermedius''. Em um exemplar maior da Guiana e um menor de Trinidad encontro também 42 escamas na série da linha lateral e, como em um par deles da Lagoa Santa, somente 11 séries de escamas sobre o dorso; os números de raios nesses exemplares de outras regiões da América do Sul são os mesmos: D.: 14 (3+11), P.: 13-15; V.: 8; A.: 11-12 (2+9; 4+8); C.: 17. Com relação a essa ampla distribuição geográfica, concordo com Valenciennes, que declara que exemplares da Bahia, Rio São Francisco, Rio Amazonas, Caiena e Lago Maracaíbo pertencem à mesma espécie. Hensel reconhece esta espécie na ``traíra'' que ele encontrou no extremo sul do Brasil, e é de opinião que M. auritus Val. (de Montevidéu) é baseada em exemplares jovens (8-9 polegadas) dessa espécie, o que, provavelmente, é bem plausível96.

Com relação a cor e desenhos, mostram-se bastante diferentes, mas, apesar de, em geral, parecerem ajustar-se com a idade, nota-se que os exemplares maiores da Lagoa Santa são totalmente escuros, porém, após um exame mais detalhado, mostram-se marmorizados ou manchados de marrom-escuro e amarelo-latão, de modo que a parte superior é toda mais escura e a inferior mais clara; todas as nadadeiras são, do mesmo modo, manchadas ou marmorizadas, os lados da cabeça possuem manchas escuras muito pequenas e sua superfície inferior é marmorizada. Nos exemplares de tamanho médio freqüentemente aparece, além das manchas ou do marmorizado, um certo ordenamento, de modo que listras escuras (marrons) ou claras (amareladas), mais ou menos nítidas, aparecem ao longo dos lados do corpo, enquanto o dorso conserva seu carácter escuro uniforme. No geral, pode-se dizer que, quanto mais jovens os exemplares, mais clara sua cor básica e mais vívidos os desenhos; exemplares de somente 6 polegadas de comprimento ou menores são, em geral, claros com uma série dupla de manchas inclinadas ao longo dos lados, que, na maioria dos casos, formam, em conjunto com algumas manchas ou listras transversais no dorso, uma série de (5-7) figuras angulares; mas existem também exemplares jovens nos quais esses desenhos se perdem na cor básica escura. As nadadeiras ímpares são também manchadas nos jovens, a parte de baixo da cabeça, ao contrário, é completamente sem cor ou branca, nos jovens abaixo de certo tamanho. Algumas listras escuras nas faces, que se irradiam das bordas dos olhos, produzem, em conjunto com algumas manchas escuras no opérculo dos jovens, quase que uma continuação das manchas escuras que ocorrem ao longo dos lados do corpo.

Na falta de registros sobre o modo de vida dessa espécie de Minas Gerais, a informação de Hensel pode ainda ter lugar aqui: ``a traíra no Sul do Brasil representa nossa lúcio e, como esta, evita águas abertas e prefere águas calmas e rasas com tufos cheios de plantas aquáticas, onde se esconde debaixo das folhas largas, espreitando as presas''.



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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-05-21