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1- Introdução


O rio das Velhas é o maior afluente em extensão da bacia do São Francisco. Orientado no sentido Sudeste-Noroeste, estende-se por 761 km de sua nascente, a 1.520 m de altitude, nas proximidades de Ouro Preto, à confluência com o rio São Francisco na Barra do Guaicuí. A vazão média anual estimada em sua foz é de 300 m3/s e a largura média de 38,3 m (CETEC, 1983). Sua bacia, com área de drenagem de 29.173 km2, está localizada inteiramente no território mineiro (CETEC, 1983), abrangendo, total ou parcialmente, 51 municípios. O rio das Velhas tem hoje importância econômica e social significativa. Em seu curso superior localiza-se a região metropolitana de Belo Horizonte, com mais de 3 milhões de habitantes (IBGE, 2000), sendo responsável pela maior parte de seu abastecimento de água.

A história de ocupação da bacia do rio das Velhas começou com os primeiros bandeirantes, na busca de ouro e pedras preciosas. A descoberta destas riquezas fez nascerem os primeiros aglomerados urbanos da região, como as cidades de Sabará e Ouro Preto. Conseqüentemente, teria início o processo de degradação da bacia. As alterações provocadas pela mineração foram mais intensas nas planícies aluviais cheias de cascalho e leitos dos rios. Na década de 1730, registrou-se que os rios Sabará e das Velhas começavam a tornar-se lamacentos devido à lavagem de aluviões (Dean, 1996).

A partir de 1898, com a transferência da capital de Minas Gerais para Belo Horizonte, consolidou-se um pólo emergente de urbanização e industrialização que acabou gerando um novo ciclo das atividades mineradoras, caracterizado pela exploração de jazidas de ferro e pela implantação de siderúrgicas próximo às margens do rio das Velhas (Fundo-Fundep, 2000).

O rio das Velhas foi um dos primeiros rios mineiros a serem estudados. Na primeira metade do século XIX, museus e governos europeus financiavam a vinda de pesquisadores para a América do Sul. Nessa época, naturalistas como Humboldt, Spix, Martius, Saint-Hilaire, Wallace, entre outros, estiveram em nosso continente. O notável paleontólogo dinamarquês Peter W. Lund chegaria nesse contexto, em viagem patrocinada pela coroa Britânica, da qual participava Charles Darwin (Cartelle, 1994).

A partir do estabelecimento de Lund na cidade de Lagoa Santa, a região do alto rio das Velhas passou a ser visitada por naturalistas dinamarqueses. A seu convite, Johannes T. Reinhardt, que já o havia visitado em outra oportunidade, permaneceu na região por duas temporadas, entre 1850 e 1856, quando fez coletas de peixes que permitiram a descrição de cerca de duas dezenas de espécies. Todo o material coletado foi descrito ou redescrito na monografia de Lütken (1875), que pode ser considerada o primeiro trabalho que sintetiza os conhecimentos sobre os peixes de uma bacia hidrográfica brasileira.

Nessa mesma época, a piscosidade do rio das Velhas era salientada pelos exploradores estrangeiros. Richard Burton, que percorreu seu curso superior em 1867 na célebre viagem de canoa de Sabará ao oceano Atlântico, registrou: ``Esta parte do rio apresenta perspectivas para uma indústria muito mais valiosa nos grandes cardumes de peixe que percorrem as águas '' (...) ``Quem visitar estes rios, deve vir munido de caniço com os maiores anzóis de água doce e com sistema de enrolamento mais resistente; do contrário, os peixes que pesam mais de 50 kg o surpreenderão.'' (Burton, 1977).

Atualmente, o rio das Velhas encontra-se em adiantado processo de degradação, que resulta das diversas atividades antrópicas exercidas em sua bacia de drenagem. As maiores fontes poluidoras estão em seu curso superior, que recebe, além de resíduos minerários, a maior parte do esgoto doméstico e industrial da região metropolitana de Belo Horizonte. Os efeitos da poluição no curso superior se fazem sentir ao longo de todo rio, com água de baixa qualidade e freqüentes episódios de mortandade de peixes.

Apesar do elevado grau de degradação do rio, ainda se encontram afluentes de grande porte com elevado nível de conservação. Entre esses destaca-se o rio Cipó, cujas cabeceiras se localizam no Parque Nacional da Serra do Cipó. A tendência atual de implantação de estações de tratamento de esgotos em vários municípios, Belo Horizonte inclusive, aponta perspectivas de melhoria da qualidade da água do rio das Velhas e de recuperação da bacia como um todo.

O presente estudo teve como objetivo realizar um diagnóstico atual da ictiofauna da bacia do rio das Velhas, mais de um século após os levantamentos de Reinhardt publicados por Lütken (1875) e traduzidos, pela primeira vez, neste livro. A proposta desse capítulo é estabelecer um marco comparativo que possa, juntamente com o trabalho de Reinhardt e Lütken, servir de base para futuras avaliações e tomadas de decisões relacionadas à recuperação e preservação da fauna de peixes deste importante afluente do rio São Francisco.




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Luiz Paulo Ribeiro Vaz 2002-06-20