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Recentemente, tem-se notado um crescente interesse no uso de sub-camadas
de Sb como surfactante no crescimento camada-por-camada de metais e
semicondutores. Um número considerável de estudos demonstrou a viabilidade
de se utilizar o Sb no crescimento de compostos semicondutores dos grupos
III-V e IV-IV, inclusive no crescimento homoepita-xial do Si (Voigtländer e
Zinner, 1993) e no crescimento heteroepitaxial de Ge sobre as superfícies
(001) e (111) do Si (Copel et al., 1990; Horn von Hoegen et al.,
1993). Têm-se estudado também o uso do Sb no crescimento homoepitaxial de
metal sobre metal, mais especificamente, Ag sobre Ag(111) (van der Vegt et al., 1992; Vrijmoeth et al., 1994). Tais estudos vêm
fornecendo informações extremamente úteis para o aprimoramento do
crescimento de multi-camadas metálicas. Estas, por sua vez, parecem ser
fontes em potencial para o surgimento de novos materiais magnéticos.
Existem vários trabalhos que tentam elucidar como ocorre o processo de
crescimento por SME no sistema Ag/Sb. Por exemplo, experiências com STM
(Vrijmoeth et al., 1994) indicam que há uma preferência dos
átomos de Sb de serem adsorvidos nas bordas de degraus existentes na
superfície. De acordo com o modelo descrito anteriormente, isto provocaria
uma redução na barreira de potencial ``vista'' pelos átomos de Prata que
se movimentam próximo a estas bordas. Além disso, resultados de cálculos
teóricos (Oppo et al., 1993) e experimentos de ``Low Energy Electron
Microscopy'' (LEEM) (Tersoff et al., 1994) indicam que a presença de
átomos de Sb reduz a mobilidade dos átomos de Ag nos terraços. Desta
maneira ocorre um aumento do número de sítios de nucleação dando
origem a uma grande densidade de ilhas que coalescem formando camadas.
Apesar de se poder notar um aumento na utilização de Antimônio como
surfactante no crescimento homoepitaxial de Prata sobre Ag(111),
existem poucos trabalhos publicados que caracterizam a interação deste
elemento com a superfície limpa deste metal. Um estudo já
antigo sobre o crescimento de Sb sobre Ag(111) (realizado sob condições
de alto-vácuo e não de ultra-alto-vácuo) (Newman, 1957) relata a
observação, a altas coberturas (acima de 5 monocamadas), de camadas amorfas
de Sb. Isto seria uma primeira evidência da formação de uma estrutura
romboédrica correspondente à face (110) de um cristal de Sb. Entretanto,
nenhuma investigação foi feita sobre que mudanças um ``annealing'' da
superfície, após a deposição, poderia provocar. Recentemente,
cálculos de primeiros princípios para a adsorção de Sb sobre Ag(111)
(Oppo et al., 1993) mostraram que é energeticamente mais favorável
para os átomos de Sb adsorvidos ocuparem sítios substitu-cionais dentro da
primeira camada para coberturas de até 0.33 monocamadas (ML). Verificou-se
também, dentro deste intervalo de coberturas, que os átomos de Sb
adsorvidos formavam uma estrutura
x
. O
crescimento de Ag sobre Ag(111), na presença de sub-camadas de Sb
previamente depositadas, foi também estudado. Experiências com STM
(Vrijmoeth et al., 1994) mostraram a existência de pequenos
``entalhes'' sobre a superfície, a partir de coberturas muito baixas
(). Associou-se a
ocorrência destes ``entalhes'' à ocupação de sítios
substitucionais dentro da primeira camada de Ag pelos
átomos de Sb. Ilhas com periodicidades
x
também foram observadas. Foi proposto então que uma
``troca de lugar'' reversível ocorre entre os átomos substitucionais
de Sb e os de Ag
posteriormente depositados. Desta maneira, o Sb agiria como um
surfactante durante este processo de crescimento. Existem também alguns
trabalhos recentes sobre a adsorção de Sb sobre Cu(111) (Giordano e
Aufray, 1994) e Au(111) (Ma e Slavin, 1994). Verificou-se que sobre a
superfície (111) do Cu, os átomos de Sb formam uma estrutura
ordenada
x
mas os átomos de Sb difundem-se para dentro
do cristal formando uma solução sólida a temperaturas elevadas.
Sobre o Au(111) esta difusão não é observada. Neste caso, uma
estrutura
x
é observada, à qual se atribui a formação de AuSb
2 com estequiometria definida.
Figura 2.7:
Gráfico da razão entre as alturas dos picos Sb/Ag em
função do tempo de deposição. (Noakes et al.,
1997)
|
``Coaxial Impact Collison Ion Scattering Spectroscopy'' (CAICISS) - uma
extensão da técnica ``Low Energy Ion Scattering'' (LEIS) (Niehaus
et al., 1993) - também foi utilizada para se estudar o crescimento de
monocamadas de Sb sobre o Ag(111) (Noakes et al., 1997). Neste trabalho,
subcamadas e monocamadas de Sb foram depositadas sobre a superfície (111)
da Ag. Durante as deposições, realizadas à temperatura ambiente, a razão
entre as alturas dos picos Auger MNN do Antimônio (454eV) e da Prata (351eV)
foi monitorada. O gráfico desta razão, em função do tempo de deposição,
apresenta descontinuidades na curvatura (Fig. 2.7). Esta descontinuidade é um
indicativo de crescimento camada-por-camada. Uma vez que esse fato não é
conclusivo, foram feitos alguns cálculos de intensidades Auger e os
resultados teóricos confirmaram as descontinui-dades da curva.
Aquecendo-se os filmes depositados a temperaturas superiores a
100oC, verificou-se que ocorre uma mudança de fase estrutural
com a formação de duas estruturas ordenadas,
x
e
x
(Fig. 2.8).
Figura 2.8:
Diagrama de fase para monocamadas de Sb depositadas sobre a superfície
(111) da Prata (Noakes et al., 1997).
|
Da Figura 2.8, vê-se que para coberturas abaixo de 0.6ML a estrutura
x
mostra-se estável para um intervalo razoável
de temperaturas (100K a 350K) enquanto que para coberturas entre 0.6ML e 1ML e
baixas temperaturas de ``annealing'' (entre 100K e 200K), a fase
x
se faz presente. Observou-se também que aquecendo a fase
x
a temperaturas superiores a 200oC, esta sofre uma
transição de fase estrutural para
x
. Uma vez que esta nova fase
existe para coberturas menores que 0.6ML, o efeito do aquecimento deve provocar
uma perda de Sb.
A cobertura de Sb associada à formação da estrutura
x
encontrada foi de 0.33ML e os
resultados de CAICISS, utilizando-se espalhamento de íons Ne+,
levaram à proposição de um modelo estrutural correspondente
à ocupação dos sítios
substitucionais pelos átomos de Sb. Desta maneira, em lugar de se formar
uma camada de Sb sobre os átomos de Ag, alguns átomos de Ag seriam
substituídos por átomos de Sb. Por outro lado, a fase
x
surgiu quando a cobertura de Sb teve seu valor dobrado em relação à
que deu origem à fase
x
. Dois modelos estruturais foram então
analisados para esta fase. O primeiro modelo considera que os átomos de Sb
estão presentes nas duas primeiras camadas. A primeira camada seria composta
apenas de átomos de Sb formando uma ``overlayer'' com estrutura (2x2),
relativo ao Ag(111) limpo. O segundo plano de átomos seria composto por
átomos de Sb ocupando sítios substitucionais produzindo uma estrutura
x
. Desta maneira o padrão LEED resultante
da superposição destas duas estruturas corresponderia ao
x
observado experimentalmente. No segundo
modelo, teríamos os átomos de Sb ocupando sítios substitucionais (agora
com uma cobertura maior) formando uma estrutura conhecida como ``honey comb'',
mas envolvendo algumas distorções perpendiculares à superfície. Os
dados de CAICISS obtidos para esta superfície são favoráveis ao
primeiro modelo descrito, com a distância entre a camada de Sb mais externa
e a imediatamente abaixo medindo 2.460.13Å.
Apesar dos resultados apresentados serem favoráveis ao modelo substitucional
para a fase
x
, este é ainda um problema
em aberto, pois os parâmetros estruturais obtidos através de CAICISS não
possuem a confiabilidade e a precisão que podem ser alcançados numa
análise estrutural via LEED e não se tem até o momento, nenhuma
informação se ocorrem variações nas distâncias interplanares ou se
os átomos de Sb que compõem a camada substitucional estão no mesmo plano
dos átomos de Ag. Sendo assim, um estudo deste sistema via LEED seria de
fundamental importância para se obter um completo entendimento do problema.
Edmar Avellar Soares
1998-12-24
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