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_____________________________________________04 de janeiro de 2005

Caros Amigos da Cosmologia,

Bem-vindos os novos participantes da lista, quais sejam, alguns de meus ex-alunos do curso de Fundamentos de Cosmologia do 2o. semestre/2004: ate' agora aderiram Breno, Cleber e Leonardo. Os enderecos eletronicos e nomes completos deles estao no cabecalho desta mensagem.

Nesta primeira mensagem de 2005, trago dois textos.

1- Um de minha autoria: "My New Year's List of Do Nots and Doughnuts". Trata-se de uma brincadeira com o idioma ingles e de um "ataque" bem-humorado `a cosmologia moderna. Vejam em:

dnt.htm

2- Um outro publicado no jornal Estado de SP, de autoria de George Matsas, fisico, professor do Instituto de Fisica Teorica da Unesp em SP. O texto fala sobre a comemoracao do ano internacional de fisica, este ano, e, especialmente, fala sobre Einstein, e seus trabalhos de 1905. E' um bom texto. Mas, por favor, nao "idolatrem' o grande fisico, como muitos fazem... Devemos ser antes de tudos criticos, ceticos, como sempre disse o grande Carl Sagan!

Saudacoes, felicidades! E nao se esquecam: um ano novo comeca a cada dia!

Domingos Savio

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1905, o ano mais feliz da história da Ciência, artigo de George Matsas
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Com a Teoria da Relatividade, Einstein criou o tempo-espaço e escancarou as janelas do Universo
George Matsas, físico, é professor do Instituto de Física Teórica da Unesp em SP. Artigo publicado em ‘O Estado de SP’:

Feliz ano-novo! Um brinde ao centenário do ‘annus mirabilis’ de 1905.

Caso o leitor não saiba, a Unesco declarou 2005 como o Ano Internacional da Física em homenagem aos trabalhos de um, então, obscuro funcionário público suíço.

Seu nome: Albert Einstein. Talvez o leitor pense que nada tem a ver com isso, mas eu acho diferente.

Albert Einstein nasceu na Alemanha, em 1879, numa família judia de classe média. Longe de ter mostrado alguma precocidade, demorou tanto para falar que seus pais suspeitaram de algum tipo de distúrbio mental. Mais tarde, como estudante, seu desempenho foi apenas sofrível.

Graduou-se, em 1901, pela Escola Politécnica de Zurique, e acabou contratado num escritório de patentes. Casado com sua colega de classe, Mileva Maric (de quem mais tarde se separaria), nada indicava o futuro brilhante que o aguardava.

Em 1931, quando Einstein já era uma celebridade mundial, Charles Chaplin convidou-o para assistir a uma projeção de seu novo filme `Luzes da Cidade’ (City Lights).

Enquanto se dirigiam ao cinema e eram saudados no carro pela multidão, Chaplin teria dito ao seu convidado:

`As pessoas o estão aplaudindo porque ninguém o compreende e me aplaudem porque todos me compreendem’.

Mas, então, Einstein teria virado um ícone por não ser entendido? Parte da resposta pode ser encontrada em 1905.

Naquele ano, Einstein publicou não um, mas três trabalhos espetaculares. No primeiro deles, Einstein adicionou um novo capítulo à teoria da luz.

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre o efeito fotoelétrico, mas foi por explicá-lo (e não pela Teoria da Relatividade) que Einstein ganhou o Prêmio Nobel em 1921.

No começo do século 20, pensava-se na luz como uma onda. Assim como ondas na água carregam energia mecânica, a luz carregaria energia eletromagnética.

A teoria ondulatória da luz explicava muitos fenômenos, mas não todos. Então, num golpe audacioso, Einstein postulou que, em certos casos, a luz se comportaria como partícula e não como onda. Bingo!

Isso levou não só a explicações de fenômenos como o ‘efeito fotoelétrico’, mas também teve implicações profundas na própria formulação da teoria quântica da luz.

Já no segundo artigo, Einstein ajudou a solidificar a própria física atômica. Parece incrível aos olhos de hoje, mas até 1905 o fato de a matéria ser feita de blocos fundamentais, não era consenso.

Os átomos, que sabemos hoje constituir a matéria, eram muito pequenos para serem observados. O que fez Einstein, então? Era sabido já naquela época que grãos de pólen suspensos em solução têm movimento errático.

Assim, Einstein mostrou que a agitação dos grãos de pólen se devia ao choque desses grãos com os átomos do fluido. Einstein estava nos ensinando a observar os átomos sem vê-los diretamente.

Essas descobertas já eram notáveis em si. Ainda mais se tratando de alguém trabalhando nas horas vagas e dormindo mal; o pequeno Hans devia estar mais preocupado com sua mamadeira do que em contribuir para a tranqüilidade do pai.

Mas foi o terceiro dos grandes trabalhos de 1905, a Teoria da Relatividade, que imortalizaria Einstein. De fato, há uma grande diferença entre a Teoria da Relatividade e os dois primeiros trabalhos de 1905.

Uma coisa é falar que a luz tem natureza corpuscular ou mesmo que a matéria é feita de átomos; outra coisa é dizer que o tempo e o espaço estão interligados, que um não faz sentido sem o outro, que não há um tempo absoluto, e assim por diante.

Ao contrário dos dois primeiros trabalhos, não estamos dissecando os atores do drama cósmico, seja luz ou matéria, mas o próprio palco de fundo onde tudo se desenrola, o espaço-tempo.

Todas as teorias da época que estavam em contradição com os princípios da relatividade tiveram de ser revistas. A teoria da gravitação de Newton foi a mais célebre vítima.

Ela, que conseguira unificar os fenômenos do céu e da Terra, explicando desde a queda dos corpos até a órbita dos planetas, não conseguira deter o tsunami relativístico.

Foram necessários dez anos para Einstein formular uma teoria de gravitação compatível com a relatividade.

No final, ela não só descrevia com mais precisão a órbita dos planetas, mas ensinava que a gravitação apenas reflete o fato de que o espaço e o tempo estão entrelaçados de maneira diferente em lugares distintos.

Pense no espaço-tempo como um tecido. E o entrelaçamento do espaço e tempo como a trama do tecido. Se a trama do tecido, ou seja, o entrelaçamento do espaço-tempo fosse idêntico em todos os lugares, não haveria força gravitacional.

É o fato de a trama ir variando ao longo do tecido que chamamos de gravitação. Por isso mesmo, essa nova teoria de gravitação foi chamada `Relatividade Geral’. Mais uma vez o espaço-tempo ganhava novas cores.

A formulação final da Relatividade Geral aconteceu em 1915. Enquanto sua teoria era experimentalmente confirmada, o anti-semitismo alemão crescia, forçando Einstein a emigrar para os EUA no começo da década de 30. Lá, ele permaneceu até o fim de sua vida, em 1955.

A realidade descortinada por Einstein mostrou-se muito mais sutil do que a imaginação mais fértil podia conceber.

Se foi a ele reservado o privilégio de abrir janelas tão majestosas para o cosmos, foi nos concedido o direito de partilhar da paisagem; e vez por outra, até mesmo o privilégio de avistar algo novo.

Obrigado, professor Einstein; obrigado por tudo. A vista é linda! (O Estado de SP, 2/1)
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Jornal da Ciencia (JC E-Mail) Edicao 2679 - Noticias de C&T - Servico da SBPC
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Domingos S.L. Soares
Astrofísica - Depto. de Física - ICEx
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