Busca por Inteligência Extraterrestre
Domingos Soares
16 de fevereiro de 2018
Estamos sós no cosmos?
A pergunta é o objeto da pesquisa do astrofísico estadunidense Frank Drake há
mais de 50 anos. No dia 19 de outubro passado assisti a uma palestra proferida por ele, promovida pelo
Departamento de Astronomia da Universidade Cornell, em Ithaca, estado de Nova York. Esta palestra fez
parte da celebração dos 40 anos das missões
Voyager 1 e 2 para exploração de
Júpiter e Saturno.
Frank Drake, 87 anos, é pesquisador do Instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence, em
português, Busca por Inteligência Extraterrestre)
e é conhecido, entre outras coisas, pela “equação de Drake”, que é uma formulação
probabilística para a estimativa do número de civilizações inteligentes e tecnológicas na galáxia da Via
Láctea, a nossa galáxia, também chamada Galáxia. Frank Drake considera uma civilização avançada como
aquela capaz de possuir radioastronomia. É uma definição limitada mas torna possível uma estimativa
de seu número N, que será o resultado do produto dos fatores da equação:
N = N* × fp × ne × fl × fi
× fc × fL.
As estimativas dos fatores que aparecem no lado direito da equação de Drake estão apresentadas
abaixo e foram propostas por Carl Sagan (1934-1996) no capítulo XII de seu livro
COSMOS, onde uma discussão mais completa da equação e das razões para a escolha de cada
fator pode ser vista. Os fatores são então:
N* = número de estrelas na Galáxia (4 × 1011 ≡
400 bilhões)
fp = fração de estrelas com sistema planetário (1/3; 100% é o valor moderno,
ver abaixo)
ne = número de planetas, em um dado sistema, ecologicamente
adequados para a vida (2; no sistema solar, por exemplo, temos a Terra, possivelmente
Marte, Júpiter e Titã, satélite de Saturno, sendo, portanto, 2 um número conservador)
fl = fração de planetas adequados nos quais a vida realmente surgiu
(1/3)
fi = fração de planetas habitados nos quais evoluiu uma forma de vida
inteligente
fc = fração dos planetas habitados por seres inteligentes nos quais
desenvolveu-se uma civilização técnica comunicativa (fi ×
fc = 1/100 ≡ um por cento)
fL = fração de duração de vida planetária favorecida por uma civilização
técnica (1/108 ≡ um por 100 milhões; fração característica da Terra, que possui vida
com alguns bilhões de anos e uma civilização técnica caracterizada pela radioastronomia de apenas
algumas décadas)
Com os fatores relativamente arbitrários adotados acima (com exceção de N*),
obtemos N = 10 planetas com inteligência avançada na Galáxia. Temos certeza de que N
deve ser no mínimo igual a 1 (a Terra!) mas, se tivermos errado em algum dos fatores acima, N
poderia ser bem maior do que 10. Só o desenvolvimento científico nos permitirá uma estimativa
mais precisa dos fatores da equação de Drake e consequentemente de N.
Voltemos agora à palestra de Frank Drake. Enumerarei a seguir alguns pontos que achei interessante,
não exatamente na ordem em que foram apresentados mas de acordo com as minhas lembranças.
1) O interesse científico pela busca de inteligência extraterrestre remonta ao século
XIX com o físico, matemático e astrônomo alemão Carl Gauss (1777-1855) e com o físico e inventor
italiano Guglielmo Marconi (1874-1937). Marconi tentou enviar sinais de rádio para o espaço, mas
não teria tido sucesso pelo fato de que a frequência que usou não sai (nem entra) na Terra, pois
é bloqueada pela atmosfera.
2) A pesquisa SETI hoje em dia utiliza radiotelescópios espalhados pelo mundo, tais como,
Parkes, 65 m de abertura, na Austrália, Green Bank, 100 m, Estados Unidos, Arecibo, 305 m, Porto
Rico (Estados Unidos; foi danificado pelos recentes furacões, mas em breve voltará a operar),
FAST (Five-hundred-metre Aperture Spherical Radio Telescope), 500 m (400 m efetivos), China, o
maior radiotelescópio do mundo.
3) SETI começa a adotar a luz visível em suas buscas, uma ideia antiga, mas que só agora
começa a ser utilizada. Feixes de raio laser são direcionados para todas as regiões de nossa
galáxia e detectores tentam observar lasers pulsantes eventualmente transmitidos por civilizações
extraterrestres.
4) Pano-SETI ou Panoramic SETI é um novo projeto SETI que busca observar todo o céu
continuamente. Existe em média 1 estrela por 24 anos-luz cúbicos na Via Láctea e de acordo com os
resultados da sonda Kepler todas as estrelas possuem sistemas planetários e 1 em cada 5 estrelas
possui planetas na chamada “zona habitável” (região em torno de uma estrela que
proporciona condições semelhantes às prevalentes na Terra para o desenvolvimento da vida).
5) Em 1974 houve um grande investimento para a reforma do radiotelescópio Arecibo que fora
inaugurado em 1963. Ele está localizado na ilha de Porto Rico, território estadunidense do mar
do Caribe. Para comemorar a reinauguração do telescópio, Drake e colegas tiveram a
ideia de usar o telescópio para enviar uma mensagem para os nossos prováveis companheiros da
Via Láctea. A mensagem não podia ser longa para não incomodar as
autoridades — era um monótono sinal de rádio codificado de forma a corresponder a um
sinal sonoro audível. A radiofrequência utilizada foi 2380 MHz, que corresponde ao comprimento
de onda de 12,6 cm. A mensagem deveria conter imagens e informação na forma de uma sequência de números
binários (0 e 1), para ser entendida por uma civilização que possua as
características lógicas de uma mente inteligente — esta foi a ideia de Drake e colegas.
E assim fizeram. Com a tecnologia da época, a mensagem foi enviada a uma taxa de 10 bits/s
durante 3 minutos, ou seja, 10×3×60 = 1800 bits = 1800/8 = singelos 225 bytes (1 byte =
8 bits).
Exercício: vejam
a imagem da mensagem de Arecibo abaixo e contem os cerca de 1800 quadradinhos, 1 bit para cada um;
quem quiser conferir a sua contagem com o número exato de bits na imagem é só me escrever
(dsoares@fisica.ufmg.br).
|
A Mensagem de Arecibo foi enviada em 16 de novembro de 1974 pelo Radiotelescópio de
Arecibo. As cores são apenas ilustrativas.
6) A grande dificuldade de SETI é a profusão de sinais espúrios, sinais de rádio locais
e especialmente sinais de satélites artificiais terrestres. Existem cerca de 200 satélites em
órbita da Terra emitindo sinais (comunicação, meteorologia, militar, etc.). Todos estes sinais têm
que ser identificados e excluídos da base de dados.
7) O SETI conta principalmente com financiamentos particulares para as suas pesquisas, pois as entidades
governamentais têm dificuldade em aceitar projetos de pesquisa que não têm perspectivas de terminar.
O sucesso, ou fracasso, da busca por inteligência extraterrestre não pode ser previsto. Drake citou
o exemplo de um imigrante e investidor russo que se comprometeu a garantir ao Instituto SETI, a fundo
perdido, o total de 100 milhões de dólares em 10 anos. O seu nome é Yuri Milner.
Como vemos, a Busca continua e com a tendência de se sofisticar cada vez mais, acompanhando o
desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade.
=========================
Domingos Savio de Lima Soares
FLORESTA COSMOS
=========================