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_____________________________________________12 de fevereiro de 2016

Caros Amigos da Cosmologia,

Passado o primeiro espanto, a poeira começa a baixar. O observatório LIGO reivindica a descoberta de dois fenômenos extraordinários: a fusão de buracos negros e a consequente detecção das ondas gravitacionais emitidas pelo buraco negro único resultante desta fusão. Vejam o trecho do resumo do artigo da descoberta, ou melhor, da “descoberta” (as aspas podem ser temporárias, reconheço, mas ainda precisamos delas):

These observations demonstrate the existence of binary stellar-mass black hole systems. This is the first direct detection of gravitational waves and the first observation of a binary black hole merger.
(os sublinhados são meus)

Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? O que se descobriu primeiro, as ondas ou a fusão de um buraco negro binário? Naturalmente, os fenômenos são ligados um ao outro. Se um existe, o outro também existe. Se um não existe, o outro também não existe.

Portanto, devemos ter cautela em nosso entusiasmo. O problema é que muitos físicos e não físicos, admiradores de Einstein, desejam ardentemente acreditar na descoberta das ondas gravitacionais e deixam-se cegar pela emoção.

Duas sugestões de ótimas leituras a seguir.

Uma de divulgação científica em Gravitational Waves Discovered from Colliding Black Holes e outra, o artigo das “descobertas”, que apresenta ótimas informações qualitativas, além da parte técnica, em Observation of Gravitational Waves from a Binary Black Hole Merger.

Prêmio Nobel à vista? Longe disto, mas as “loucuras” que vêm acontecendo nos comitês Nobel nos impede de ter muita segurança em qualquer previsão.

Um abraço a todos.

Saudações Cosmológicas,

Domingos

PS (14 de fevereiro de 2016): A situação aqui comentada é semelhante, em alguns aspectos, à ocorrida em 1919, por ocasião da tentativa de comprovação observacional da deflexão gravitacional da luz. Então, a quase certeza do resultado positivo para a previsão da Teoria da Relatividade Geral (TRG), relativamente ao valor do desvio angular da luz, fez com que os astrônomos da época passassem por cima de problemas técnicos importantes, os quais prejudicaram de forma decisiva as conclusões, impedindo uma distinção entre as previsões da TRG e da gravitação clássica (cf. Soares 2006). Décadas depois, a deflexão einsteiniana viria a ser comprovada, com a utilização de técnicas mais refinadas.

Agora, como em 1919, a pressão por resultados — o investimento no projeto LIGO monta a bilhões de dólares — levou à precipitação no anúncio dos resultados científicos. Resta-nos aguardar pela confirmação observacional deste fenômeno. Por enquanto temos apenas indícios teórico-observacionais das ondas gravitacionais.

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Domingos Sávio de Lima Soares
Página Pessoal
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