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_____________________________________________29 de novembro de 2012

Caros Amigos da Cosmologia,

O 14o capítulo de meu O Reino das Galáxias intitula-se O quasar: monstro energético ou grande desconhecido?, e termina com as seguintes palavras: “Como se vê, a pesquisa de QSOs, em geral, e dos quasares, em particular, ainda promete muitas novidades para todos nós!” É sobre uma destas novidades que vou falar.

Acaba de ser aceito para publicação, no importante periódico britânico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, o artigo intitulado “A structure in the early universe at z ~ 1.3 that exceeds the homogeneity scale of the R-W concordance cosmology” de autoria de Roger Clowes, Kathryn Harris, Srinivasan Raghunathan, Luis Campusano, Ilona Soechting e Matthew Graham, astrônomos de duas instituições inglesas, uma americana e uma chilena.

Dois esclarecimentos antes de passar a palavra aos autores do artigo: (i) R-W concordance cosmology é nada mais do que um eufemismo pobre para Modelo Padrão da Cosmologia (MPC), o nosso velho conhecido, cheio de problemas. A “cosmologia da concordância de R-W” refere-se dois aspectos do MPC. O primeiro é a “concordância” na obtenção de vários parâmetros do MPC, calculados com métodos diferentes (por exemplo, estudos da radiação de fundo, estudos da distribuição de gáláxias em grande escala, estudo da nucleossíntese primordial, etc). Todos estes métodos levam presumivelmente aos mesmos valores para os parâmetros característicos do MPC (constante de Hubble, densidade de matéria bariônica, densidade de matéria não bariônica, densidade de energia escura, etc). O segundo aspecto são as homogeneidade e isotropia do universo implícitas na métrica de Robertson-Walker (R-W), que caracteriza o MPC. (ii) A unidade de comprimento usada pelos astrônomos profissionais é o parsec (pc) e os seus múltiplos, entre eles o megaparsec (Mpc). Um parsec é igual a 3,26 anos-luz. Para distâncias estelares, na vizinhança solar por exemplo, esta diferença é importante, mas para a cosmologia (escalas de milhões de parsecs — de Mpc) esta diferença não tem a menor importância. De forma que ao lermos “200 Mpc” (200 milhões de parsecs) isto é perfeitamente equivalente a “200 Mly” (200 milhões de anos-luz), se fazemos uma leitura apenas qualitativa. Vamos a Clowes et al. agora.

Os autores utilizaram um censo de galáxias e quasares recente denominado Sloan Digital Sky Survey (SDSS, página eletrônica em português aqui) para identificar uma associação, i.e., um grupo, de quasares enorme. O grupo possui 73 quasares e uma separação própria média, hoje, de 500 Mpc, localizados no desvio para o vermelho médio = 1,27, que corresponde a uma distância própria, também hoje, de aproximadamente 3.000 Mpc (3 Gpc). Esta é a maior associação de quasares jamais encontrada no SDSS, na faixa de 1,0 ≤ z ≤ 1,8, e é vizinha, a uma distância projetada no céu de ∼140 Mpc, de uma outra associação anteriormente identificada, com 34 quasares. Essa nova associação parece ser a maior estrutura, conhecida na atualidade, do universo primordial. O seu tamanho sugere incompatibilidade com os critérios estabelecidos dentro das premissas do MPC para a homogeneidade, violando portanto um dos fundamentos deste modelo, qual seja, o Princípio Cosmológico (leia, e.g., Os primeiros passos na cosmologia relativista).

Em poucas palavras, trabalhando-se no contexto do MPC chega-se a uma distribuição de objetos cósmicos que destrói a homogeneidade espacial esperada e necessária para a validação do MPC. Uma pedra no meio do caminho, vamos assim dizer.

O artigo está em arxiv.org/abs/1211.6256.

Um abraço a todos.

Saudações Cosmológicas,

Domingos

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Domingos Sávio de Lima Soares
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