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_____________________________________________06 de outubro de 2006

Caros Amigos da Cosmologia,

Por favor, leiam abaixo dois artigos recentes que apareceram em jornais do Brasil sobre o premio Nobel de Fisica de 2006.

Alguns comentarios pessoais sobre a premiacao:

1- A realizacao do COBE (Cosmic Background Explorer) foi extraordinaria e os dois pesquisadores responsaveis pelo mesmo -- os fisicos John Mather e George Smoot -- foram importantissimos no tremendo empreendimento cientifico que envolveu centenas de tecnicos, engenheiros, fisicos, astronomos, etc. Mas trata-se de um desenvolvimento tecnologico sobre algo conhecido, a Radiacao de Fundo de Microondas, para cuja descoberta foi atribuido um premio Nobel em 1978. Ja' se suspeitava que o espectro era termico -- foi confirmado brilhantemente sob a lideranca de John Mather. Ja' se suspeitava de que haveriam inomogeneidades -- foi confirmado brilhantemente sob a lideranca de George Smoot. Trata-se de um desenvolvimento de natureza tecnologica e de aperfeicoamento experimental. Nao ha' nada de novo em termos de fisica. Alguem em sa consciencia nao esperaria encontrar inomogeneidades no fundo de microondas? Sera' necessario procurar por elas no fundo azul isotropico de nosso ceu diurno? A ligacao com o Modelo Padrao da Cosmologia e' a chave para o entendimento desta atitude claramente de natureza ideologico-partidaria do atual comite Nobel. E isto e' inadimissivel para cientistas honestos e dignos da heranca de um Tycho Brahe, de um Robert Hooke e de Isaac Newton.

2- O relacionamento das realizacoes do COBE com o Modelo Padrao da Cosmologia (modelo cosmologico do "Estrondao Quente", ou "Hot Big Bang", em ingles) e' totalmente inapropriado. O comite responsavel por uma premiacao do significado historico do premio Nobel deve se cercar de todas as precaucoes, como foi feito no passado, com ate' exagerado conservadorismo. Isto porque, trata-se -- o referido modelo -- de uma teoria "em construcao". Nao ha' absolutamente nenhuma evidencia definitiva, experimental ou observacional, sobre a sua validade, no que diz respeito `as suas previsoes para os principais observaveis esperados de uma teoria cosmologica decente. E extremamente desolador ver o comite Nobel se curvar a influencias de natureza politico-cientificas.

3- Quando se pensa no premio Nobel atribuido a Einstein em 1921, e nos escrupulos do comite Nobel em mencionar explicitamente a Teoria da Relatividade Restrita, e isto, 16 anos apos a sua formulacao, e' de se estranhar a vergonhosa submissao a influencias espurias, nao cientificas, a que o comite se submete agora.

4- Se os criterios utilizados na concessao do premio Nobel em outras areas foram semelhantes aos usados no premio Nobel de Fisica, temos razoes de sobra para estarmos desapontados e muito preocupados quanto ao que vira' pela frente.

Saudacoes,

Domingos

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Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 3115 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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Você vai ler nesta edição:

2 - Medida do eco do Big Bang dá Nobel a dupla dos EUA

3 - Laureado tenta criar modo de observar matéria escura

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2 - Medida do eco do Big Bang dá Nobel a dupla dos EUA

John Mather e George Smoot produziram a 1ª imagem da infância do Universo

Claudio Angelo escreve para a Folha de SP:

Dois cientistas norte-americanos ganharam ontem o Prêmio Nobel de Física por algo aparentemente trivial: eles fizeram a foto de um bebê.

Um feito na verdade impressionante, quando o bebê em questão é o Universo e a imagem, uma confirmação da teoria do Big Bang -a explosão primordial que deu origem a tudo.

John C. Mather, pesquisador do Centro Goddard de Vôo Espacial, da Nasa (agência espacial dos EUA) e George Smoot, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, dividirão a bolada de 10 milhões de coroas suecas (R$ 2,9 milhões) concedido pela Real Academia de Ciências da Suécia "por sua descoberta da forma de corpo negro e da anisotropia da radiação cósmica de fundo".

Em bom português, o que eles fizeram foi mapear um tipo de emissão em microondas considerado o "eco" do Big Bang, a chamada radiação cósmica de fundo. Mather determinou o formato dessa radiação, que banha todo o Universo.

Smoot descobriu que ela se distribui de maneira irregular pelo cosmo, com diferenças de centésimos de milésimo de grau Celsius na temperatura.

Foi essa irregularidade (a tal anisotropia) que determinou que a matéria no Universo esteja concentrada em galáxias, planetas e seres humanos, como você. Sem esses grumos cósmicos, a matéria estaria espalhada de maneira uniforme por aí -o que seria péssimo para os interesses dos seres vivos.

As observações da dupla foram feitas com o auxílio do satélite Cobe, da Nasa, lançado em 1989, e seus resultados foram anunciados em 1990.

Os dados mostram como era o Universo na primeira infância, cerca de 380 mil anos após o Big Bang. Se o cosmo fosse uma pessoa de meia-idade, a imagem do Cobe mostraria o momento em que ele tinha apenas dez horas de vida.

"A descoberta inaugurou a era de ouro da cosmologia", disse Michael Turner, astrônomo da Universidade de Chicago.

"Com eles, a cosmologia deixou de ser uma ciência puramente especulativa", disse Ivone Albuquerque, física da USP que trabalhou com Smoot.

Na época do anúncio dos resultados do Cobe, o físico pop-star britânico Stephen Hawking foi mais longe: "É a maior descoberta do século, senão de todos os tempos".

Sem muita surpresa

Mather, 60, se disse "emocionado e maravilhado" com o prêmio, mas não completamente surpreso. "As pessoas diziam que nós deveríamos ser premiados, mas esta é uma honra muito rara e especial."

Acordado às 2h45 em sua casa na Califórnia por um telefonema do comitê do Nobel, Smoot, 61, se disse surpreso, mas com outra coisa: como os suecos descobriram seu telefone.

"O lado bom é que agora meus alunos vão prestar mais atenção em mim." Nenhum dos dois sabe o que vai fazer com o dinheiro. "Embora eu tenha minha hipoteca para pagar", brincou Smoot.

A radiação cósmica de fundo foi descoberta em 1964, quando os astrônomos Arno Penzias e Robert Wilson detectaram um chiado estranho em suas antenas, que parecia vir de todas as direções do céu.

Esse chiado, determinou-se mais tarde, era a radiação em microondas que havia sido prevista pelos teóricos do Big Bang como um "fóssil" da grande explosão. (Ele compõe o barulho que você ouve numa TV fora de sintonia.)

Na época da emissão dessa radiação, o Universo era uma massa caótica e quente, com cerca de 3.000C. A previsão teórica era que, à medida que o cosmo fosse se expandindo, a temperatura da radiação de fundo diminuiria. Hoje ela é de -270C.

E o padrão dessa emissão, medido pelo Cobe, só pode ser explicado pelo Big Bang.

"Quando lançamos o Cobe, não tínhamos nem idéia do que iríamos ver", disse Mather.

Ele agora coordena a parte científica do telescópio espacial James Webb, que a Nasa deve lançar em 2013. E sabe o que procurar: a natureza da energia escura, a misteriosa força que vem acelerando o cosmo. (Folha de SP, 4/10)

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3 - Laureado tenta criar modo de observar matéria escura

Em parceria com brasileira, Smoot busca meio de "ver" massa que não emite luz

Rafael Garcia escreve para a Folha de SP:

O cosmólogo George Smoot pode ser definido com um multiinstrumentista da ciência.

Ganhador do Nobel de Física deste ano, ele trabalha hoje em diversas áreas de ponta dessa disciplina -uma fábrica de conceitos com nomes exóticos como "matéria escura" e "cordas cósmicas"- além de continuar aprimorando o estudo da radiação de fundo.

Segundo Ivone Albuquerque, ex-colaboradora de Smoot, essa diversidade de assuntos permite que ele contribua para uma das principais metas da física de hoje: unificar a teoria que descreve a gravidade com aquela que descreve as forças nucleares e o eletromagnetismo. Quem fizer isso certamente vai ganhar outro Nobel.

"O George [Smoot] atua com física básica onde hoje há interfaces entre cosmologia e física de partículas, e essa é uma linha que caminha para a compreensão de o que deveria ser a unificação [das forças]", diz Albuquerque.

"Ele é capaz de pensar não só no tema em que está trabalhando mas em vários aspectos da física ao mesmo tempo. Ele tem muita clareza sobre o que acha que os rumos da ciência devem ser."

A brasileira trabalhou com Smoot na Califórnia entre 1999 e 2004 em um projeto para tentar determinar como um detector de de neutrinos (um tipo de partícula elementar) pode ser usado para inferir a existência de matéria escura (um tipo de matéria que não interage com quase nada mas é a mais abundante no universo). Determinar a composição dela é um dos enigmas-chave da física atual.

Do tempo em que trabalhou com Smoot, Albuquerque guarda boas recordações.

"Ele é muito inspirador, dá ideias e ajuda a pensar, mas é um pouco teimoso, e você tem que aprender a trabalhar com ele para tirar o melhor da parceria", diz. "O George sempre pensa muito à frente de todo mundo, e para conseguir esmiuçar o que ele está querendo dizer às vezes leva alguns meses."

Cordas cósmicas

Hoje, uma das principais linhas de pesquisa seguida pelo físico é o estudo das chamadas cordas cósmicas. Elas são uma entidade prevista em teorias de quebra linear das dimensões do espaço.

Isso apareceria no universo sob a forma de "fios" com o comprimento de muitas galáxias, mas absurdamente finos, menores que o núcleo de átomos.

Apesar de delgadas, as cordas cósmicas devem ser extremamente maciças, com grande força gravitacional, o que pode torná-las detectáveis de maneira indireta.

O interesse dos físicos nessas entidades é que elas teriam se formado a partir da expansão do Universo, a partir do alongamento de cordas minúsculas.

Uma das principais teorias que tentam descrever a unificação das forças prevê que essas pequeninas cordas são na verdade a base de toda partícula que conhecemos. Mas ninguém sabe como observá-las.

O fato de trabalhar com cordas cósmicas hoje é uma prova de que talvez Smoot não seja tão teimoso.

"Isso é uma das coisas que levantamos há muito tempo, e uma das teorias que eu adoraria ter matado", disse o cientista à Folha, durante entrevista coletiva por telefone.

Como muitos físicos, ele descartou a existência de cordas cósmicas nos anos 1980 e só a retomou recentemente, quando ficou claro que elas podem responder a certas questões sobre a composição do Universo. (Folha de SP, 4/10)
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Domingos S.L. Soares
Astrofísica - Depto. de Física - ICEx
UFMG - C.P. 702
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Página Pessoal


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