_____________________________________________20 de outubro de 2017
Caros Amigos da Cosmologia,
Estamos sós no cosmos?
A pergunta é o objeto da pesquisa astronômica de Frank Drake há
mais de 50 anos. Ontem assisti a uma palestra proferida por ele, promovida pelo
Departamento de Astronomia da Universidade Cornell, em Ithaca, estado de Nova York, onde me
encontro no momento. Esta palestra é parte da celebração dos 40 anos das missões
Voyager 1 e 2 para exploração
de Júpiter e Saturno.
Frank Drake, 87 anos, é pesquisador do Instituto SETI (Search for Extraterresrial Intelligence)
e é conhecido por, entre outras coisas, a “equação de Drake”, que é uma formulação
probabilística para a estimativa do número de civilizações inteligentes e tecnológicas em nossa galáxia
(leiam uma descrição detalhada da equação de Drake no interessante artigo do Prof. Renato Las Casas e
da jornalista Divina Mourão em Vida Extraterrestre,
que será referido daqui para a frente como VET).
Enumerarei a seguir alguns pontos que achei interessante na palestra, não exatamente
na ordem em que foram apresentados, mas de acordo com as minhas lembranças.
1) O interesse científico pela busca de inteligência extraterrestre remonta ao século
XIX com o físico, matemático e astrônomo alemão Carl Gauss e com o físico e inventor
italiano Marconi. Marconi tentou enviar sinais de rádio para o espaço, mas não teria tido
sucesso pelo fato de que a frequência que usou não sai (nem entra) na Terra, pois é bloqueada
pela atmosfera.
2) A pesquisa SETI hoje em dia utiliza radiotelescópios espalhados pelo mundo, tais como,
Parkes, 65 m de diâmetro, na Austrália, Green Bank, 100 m, Estados Unidos, Arecibo, 305 m, Porto
Rico (Estados Unidos; foi danificado pelos recentes furacões, mas em breve voltará a operar),
FAST (Five-hundred-metre Aperture Spherical Radio Telescope), 500 m (400 m efetivos), China, o
maior radiotelescópio do mundo.
3) SETI começa a adotar a luz visível em suas buscas, uma ideia antiga mas que só agora começa a ser
utilizada. Feixes de raio laser são direcionados para todas as regiões de nossa
galáxia e detectores tentam observar lasers pulsantes enviados por civilizações extraterrestres para
a transmissão de mensagens.
4) Pano-SETI ou Panoramic SETI é um novo projeto SETI que busca observar todo o céu
continuamente. Existe em média 1 estrela por 24 anos-luz cúbicos na Via Láctea e de acordo com os
resultados da sonda Kepler todas as estrelas possuem sistemas planetários e 1 em cada 5 estrelas
possuem planetas na chamada “zona habitável” (região em torno de uma estrela que
proporciona condições semelhantes às prevalentes na Terra para o desenvolvimento da vida).
5) Em 1974 houve um grande investimento para a reforma do radiotelescópio Arecibo que fora
inaugurado em 1963. Para comemorar a reinauguração do telescópio, Drake e colegas tiveram a
ideia de usar o telescópio para enviar uma mensagem para os nossos prováveis companheiros da
Via Láctea. A mensagem não podia ser longa para não incomodar as
autoridades — era um monótono sinal de rádio codificado de forma a corresponder a um
sinal sonoro audível. A mensagem deveria conter imagens e informação na forma de algoritmos
matemáticos (números binários), para ser entendida por uma civilização que possua as
características lógicas de uma mente inteligente — esta foi a ideia de Drake e colegas.
E assim fizeram. A mensagem pode ser vista em VET na seção “Enviamos nossos sinais?”.
Com a tecnologia da época, a mensagem foi enviada a uma taxa de 10 bits/s durante 3 minutos, ou seja,
10×3×60 = 1800 bits = 1800/8 = singelos 225 bytes (1 byte = 8 bits). (Exercício: vejam
a imagem em VET e contem os cerca de 1800 quadradinhos brancos e pretos, 1 bit para cada um).
6) A grande dificuldade de SETI é a profusão de sinais espúrios, sinais de rádio locais
e especialmente sinais de satélites artificiais terrestres. Existem cerca de 200 satélites em
órbita da Terra emitindo sinais (comunicação, meteorologia, militar, etc.). Todos estes sinais têm
que ser identificados e excluídos da base de dados.
7) O SETI conta principalmente com financiamentos particulares para as suas pesquisas, pois as entidades
governamentais têm dificuldade em aceitar projetos de pesquisa que não têm perspectivas de terminar.
O sucesso, ou fracasso, da busca por inteligência extraterrestre não pode ser previsto. Drake citou
o exemplo de um imigrante e investidor russo que se comprometeu a garantir ao Instituto SETI, a fundo
perdido, o total de 100 milhões de dólares em 10 anos. O seu nome é Yuri Milner.
Um abraço a todos.
Saudações Cosmológicas,
Domingos
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Domingos Sávio de Lima Soares
FLORESTA COSMOS
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