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_____________________________________________19 de outubro de 2017
Caros Amigos da Cosmologia,
Incrível escuridão! O dicionário Caldas Aulete (http://www.aulete.com.br/)
registra as seguintes acepções para a palavra “incrível”.
1. Que não é crível; no qual não se pode acreditar. [ Antôn.: acreditável, crível ]
2. Fora do comum; EXTRAORDINÁRIO: Ele tem uma força incrível!
3. Que é ou aparenta ser inexplicável, fantástico: Foi uma aparição incrível, difícil de descrever!
4. Que tem qualidades extraordinárias: É um filme incrível!
Incrível, acepção 1, escuridão!
Incrível a escuridão após uma retumbante fusão de um buraco negro binário. Os pesquisadores ligados às ondas gravitacionais (OGs) sempre afirmam isto: “— Buracos negros são singularidades espaço-temporais de onde nem mesmo a luz consegue escapar, então, numa fusão destas, de dois tremendos buracos negros, não há qualquer emissão de radiação eletromagnética, de luz!” É, faz sentido.
Não, não faz o menor sentido. Muito antes pelo contrário. Vejamos o porquê.
As simulações numéricas da fusão de buracos negros consideram dois objetos puros e imaculados, duas singelas singularidades espaço-temporais. A natureza, no entanto, é mais rica e diversa. Um buraco negro, incrível por si só, é sempre cercado pelo chamado disco de acreção, que é um disco de material previamente existente na sua vizinhança que foi atraído pelo seu campo gravitacional, encontrando-se no processo de ser integrado à incrível singularidade. Os processos físicos que ocorrem no disco durante a acreção são responsáveis, de acordo com o paradigma atual, pela assinatura eletromagnética de buracos negros isolados ou não.
Então, no processo incrível e violento da fusão bombástica de dois buracos negros, o material dos discos de acreção é levado junto e é incrível que não apareça um fóton sequer neste processo.
Obviamente é bastante cômodo investigar algo que só você pode detectar e que repousa na mais completa e incrível escuridão. O fenômeno é escuro para as dezenas de detectores de radiação eletromagnética existentes em solo e no espaço. É bastante cômodo sim.
[E a detecção das OGs da estrela de nêutrons binária, anunciada recentemente (cf. COSMOS:16out17), e de suas contrapartidas eletromagnéticas, não foi incrível? Sim, foi incrível, acepção 1. E merece uma consideração per se, oportunamente.]
Abaixo listo algumas referências bibliográficas que questionam e/ou discutem a incrível escuridão.
1. INTEGRAL upper limits on gamma-ray emission associated with the gravitational
wave event GW150914
disponível neste local.
2. Electromagnetic Counterparts to Black Hole Mergers disponível
neste
local.
3. Relativistic Mergers of Supermassive Black Holes and their Electromagnetic
Signatures disponível
neste local.
4. The Final Merger of Massive Black Holes: Recoils, Gravitational Waves, and
Electromagnetic Signatures resumo disponível
neste
local.
5. Vacuum Electromagnetic Counterparts of Binary Black-Hole Mergers disponível
neste local.
6. Simulations of the effect of black hole recoil on surrounding gas disks
disponível neste local. Merecem destaque aqui,
as visualizações das simulações.
… e muito mais.
Um abraço a todos.
Saudações Cosmológicas,
Domingos
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Domingos Sávio de Lima Soares
FLORESTA COSMOS
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