Domingos Soares
03 de janeiro de 2011
“É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão.”
— Provérbio popular
Carl Sagan (1934-1996), astrônomo norte-americano e divulgador
apaixonado das conquistas científicas da humanidade, foi um paladino
do ceticismo. Ao consultarmos um dicionário encontraremos os
significados seguintes para ceticismo: disposição para duvidar de tudo,
descrença, incredulidade.
Mas Carl Sagan adicionava um tempero fundamental ao seu obstinado ceticismo, qual seja, o método científico. Para ele "a ciência é como uma vela na escuridão". A cidadania, para ele, incluía um entendimento pleno e pessoal de como o mundo que nos cerca é e de como funciona. Carl Sagan foi provavelmente o mais brilhante entre os cientistas que se dedicam à divulgação da ciência.
Carl Sagan tornou-se célebre em virtude da série televisiva exibida em todo o mundo no início da década de 1980. No dia 28 de setembro de 2010 completaram-se 30 anos da exibição, nos Estados Unidos, do primeiro episódio desta série. Ela denomina-se "Cosmos: uma Viagem Pessoal" e é constituída por 13 episódios de aproximadamente 1 hora de duração cada um.
Carl Sagan, na época da realização da série para TV "Cosmos". (Crédito: Domínio público)
Em Cosmos, Carl Sagan procura mostrar a aventura humana na busca de sua posição temporal e espacial no universo. Esta busca tornou-se concreta com a invenção desta fabulosa empreitada denominada "ciência". A história do desenvolvimento da ciência é mostrada através de experiências e visitas aos locais em que ela começou a se desenvolver.
A série televisiva foi também colocada na forma de um livro, intitulado "Cosmos", que permanece atual e instigante até os dias de hoje.
Capa do livro "Cosmos", que procura sintetizar em papel os treze episódios da série televisiva homônima. (Crédito: Domínio público)
Carl Sagan é autor de muitos outros livros, a maioria deles destinada à divulgação científica. É autor de um livro de ficção científica, denominado "Contato", o qual serviu de inspiração para um filme de mesmo nome e de grande sucesso em 1997. O último de seus livros, publicado em 1995, um ano antes de sua morte, foi "O mundo assombrado pelos demônios" e que trazia o subtítulo "A ciência vista como uma vela no escuro".
Este livro representa --- pode-se arriscar --- uma síntese da batalha de Carl Sagan em prol do ceticismo esclarecido e da permanente desconfiança em relação ao mundo que nos cerca. "Os demônios" representam os enganos e ilusões que são apresentados às pessoas, e que têm como objetivo a manutenção de poder e o proveito próprio, por parte daqueles que os apresentam. O ceticismo é iluminado pela "vela" que é a ciência, através da ferramenta da metodologia científica.
No final do capítulo 4 de "O mundo assombrado pelos demônios" lemos: "Aqueles que têm alguma coisa para vender, aqueles que desejam influenciar a opinião pública, aqueles que estão no poder, diria um cético, têm um interesse pessoal em desencorajar o ceticismo". E pouco antes, neste mesmo capítulo: "O que a ciência exige é tão-somente que façamos o uso dos mesmos níveis de ceticismo que empregamos ao comprar um carro usado ou ao julgar a qualidade dos analgésicos ou da cerveja pelos seus comerciais na televisão".
E quantos fatos e afirmações "maravilhosos" nos são apresentados a toda a hora: a visita de extra-terrestres, a vida após a morte, eram os deuses astronautas?, o homem não pisou na lua, a existência de bruxos e bruxas com poderes mágicos, pulseiras, copos, etc. dotados de poderes curativos, e o que mais? Sempre céticos, iluminados pelo método científico, devemos questionar tudo isto. É a mensagem de Carl Sagan e de seu ceticismo esclarecido.
Em novembro de 1997, quase um ano após a sua morte, ocorrida no dia 20 de dezembro de 1996, Carl Sagan recebeu mais uma merecida homenagem. Desta vez foi a comunidade de Ithaca, pequena cidade universitária, localizada no interior do estado de Nova Iorque, e onde se localiza a Universidade Cornell, prestigioso centro de ensino e pesquisa mundial, onde ele era professor e pesquisador.
No dia 8 de novembro de 1997 foi inaugurado o "Passeio Planetário Carl Sagan". Trata-se de um percurso de 1,2 km, partindo da praça central de Ithaca e terminando no Centro de Ciências da cidade. O percurso é pontuado por "estações", que representam o Sol e os planetas solares. A estação do Sol foi colocada na praça e Plutão --- naquela época ainda classificado como planeta --- no Centro de Ciências. As distâncias entre o Sol e os planetas foram colocadas em escala de tal forma que a distância do Sol até Plutão --- aproximadamente 6 bilhões de quilômetros --- correspondesse a 1,2 km, resultando, portanto, numa escala de 1 para 5 bilhões.
Eu estava em Ithaca neste ano, realizando um estágio de pós-doutoramento no Departamento de Astronomia, da Universidade Cornell, e tive a grande alegria de comparecer, junto a minha esposa, à inauguração do Passeio Planetário. Vejam mais detalhes sobre ele em http://www.sciencenter.org/sagan-walk.html.
A estação do Sol, eu à esquerda e a minha esposa. Pode-se ver um pouco ao fundo e à minha direita a estação de Mercúrio. (Crédito: Domingos Soares, novembro/1997)
As quatro estações: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, na praça central de Ithaca, NY. (Crédito: Domingos Soares, novembro/1997)
Para mais informações sobre a vida e a obra de Carl Sagan, os interessados podem consultar o Portal Carl Sagan em http://www.carlsagan.com/.
Vejam também em Passeio de Galáxias de Virgem a descrição de um outro passeio astronômico, fortemente inspirado no de Carl Sagan.