From jcemail@jornaldaciencia.org.br Fri Oct 6 16:41:53 2006
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Subject: JC e-mail 3117, de 06 de outubro de 2006

Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 3117 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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Você vai ler nesta edição:

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28 - Leitor comenta Prêmio Nobel de Física de 2006

"Trata-se de um desenvolvimento de natureza tecnológica e de aperfeiçoamento experimental. Não há nada de novo em termos de física"

Leia a mensagem de Domingos S.L. Soares, do Depto. de Fisica/Astrofisica - ICEx UFMG:
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1- A realização do COBE (Cosmic Background Explorer) foi extraordinária e os dois pesquisadores responsáveis pelo mesmo -- os físicos John Mather e George Smoot -- foram importantíssimos no tremendo empreendimento científico que envolveu centenas de técnicos, engenheiros, físicos, astrônomos etc.

Mas trata-se de um desenvolvimento tecnológico sobre algo conhecido, a Radiação de Fundo de Microondas, para cuja descoberta foi atribuído um prêmio Nobel em 1978.

Já se suspeitava que o espectro era térmico -- foi confirmado brilhantemente sob a liderança de John Mather.

Já se suspeitava de que haveria inomogeneidades -- foi confirmado brilhantemente sob a liderança de George Smoot.

Trata-se de um desenvolvimento de natureza tecnológica e de aperfeiçoamento experimental. Não há nada de novo em termos de física. Alguém em sã consciência não esperaria encontrar inomogeneidades no fundo de microondas?

Será necessário procurar por elas no fundo azul isotrópico de nosso céu diurno?

A ligação com o Modelo Padrão da Cosmologia é a chave para o entendimento desta atitude claramente de natureza ideologico-partidária do atual comitê Nobel. E isto é inadimissível para cientistas honestos e dignos da herança de um Tycho Brahe, de um Robert Hooke e de Isaac Newton.

2- O relacionamento das realizações do COBE com o Modelo Padrão da Cosmologia (modelo cosmológico do "Estrondão Quente", ou "Hot Big Bang", em inglês) é totalmente inapropriado.

O comitê responsável por uma premiação do significado histórico do prêmio Nobel deve se cercar de todas as precauções, como foi feito no passado, com até exagerado conservadorismo.

Isto porque, trata-se -- o referido modelo -- de uma teoria "em construção". Não há absolutamente nenhuma evidencia definitiva, experimental ou observacional, sobre a sua validade, no que diz respeito às suas previsões para os principais observáveis esperados de uma teoria cosmológica decente.

É extremamente desolador ver o comitê Nobel se curvar a influências de natureza político-científicas.

3- Quando se pensa no prêmio Nobel atribuído a Einstein em 1921, e nos escrúpulos do comitê Nobel em mencionar explicitamente a Teoria da Relatividade Restrita, e isto, 16 anos após a sua formulação, é de se estranhar a vergonhosa submissão a influências espúrias, não científicas, a que o comitê se submete agora.

4- Se os critérios utilizados na concessão do premio Nobel em outras áreas foram semelhantes aos usados no prêmio Nobel de Física, temos razões de sobra para estarmos desapontados e muito preocupados quanto ao que virá pela frente.



Domingos Sávio de Lima Soares
Oct 06 2006