JC e-mail 3246, de 19 de abril de 2007

Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 3246 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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Você vai ler nesta edição:


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16. "Universidade Nova" e transposição do Rio São Francisco

"As classes mais abastadas, e seus filhos superpreparados pelas escolas privadas, ocuparão a maioria das vagas das "grandes áreas de conhecimento"

Domingos S.L. Soares é professor do Depto. de Física, membro do Grupo de Astrofísica, da UFMG. Artigo enviado para o "JC e-mail": ====================================================

O projeto "Universidade Nova" pretende "mudar a arquitetura acadêmica das Universidades públicas brasileiras", como aparece em artigo publicado na edição de 13 de abril de 2007 do Jornal da Ciência da SBPC (edição nr. 595). Trata-se de projeto que conta com o apoio do MEC.

As discussões sobre o assunto se espalham pelo Brasil, com seminários em várias universidades. Prós e contras começam a surgir.

O Reitor da UFMG manifestou-se claramente contra o projeto, em artigo divulgado no Boletim da UFMG, nr. 1572, de 09 de abril de 2007 (veja em www.ufmg.br/boletim/). Segundo o Prof. Ronaldo Tadeu Pena, o ingresso na Universidade feito por escolha de grandes áreas do conhecimento -- como quer a "Universidade Nova" --, ao invés do processo de escolha prévia da carreira profissional, levará a um aumento da elitização do ensino superior público. As classes mais abastadas, e seus filhos superpreparados pelas escolas privadas, ocuparão a maioria das vagas das "grandes áreas de conhecimento".

O presidente da SBPC, Prof. Ennio Candotti, afirma no Jornal da Ciência, que é favorável ao projeto, que leva à economia de tempo e recursos, pois no sistema atual muitos jovens abandonam os seus cursos de escolha inicial.

É claro que ambas as posições merecem ser bem discutidas e não esgotam a importante questão da universidade pública brasileira.

Mas, e a transposição do Rio São Francisco, o que tem a ver com a "Universidade Nova"? Vemos nos dois casos o mesmo tipo de comportamento equivocado do governo federal, quer dizer, colocar o carro na frente dos bois.

A Universidade será reformada enquanto a base de tudo -- os ensinos fundamental e médio públicos -- está em frangalhos. De que adianta reformar o ensino superior se a base que o sustenta está em estado crítico?

A transposição das águas do Rio São Francisco estão avançando a toque de caixa enquanto a base de tudo -- o Rio São Francisco -- está em frangalhos. De que adianta construir um sistema de transposição se não existir o principal, a água?

Será que estamos testemunhando a criação de um "modus operandi" padrão do governo federal, nos exemplos acima? Em outras palavras, abandonar o essencial à própria sorte e buscar realizações sem base sólida e de alto custo para o povo brasileiro.





Domingos Sávio de Lima Soares
19 abr 2007