Domingos Soares
(Página Pessoal)
Astrofísica/Departamento de Física, UFMG
Endereço eletrônico:
dsoares@fisica.ufmg.br
01 de abril de 2010
Quais seriam os efeitos de um alinhamento do Sol, da Terra e dos demais planetas sobre a própria Terra? Muito se tem falado sobre as consequências deste fenômeno. Na maioria das vezes as conclusões tiradas são cientificamente falsas quando não absurdas.
Utilizaremos a lei da gravitação universal, descoberta por Isaac Newton (1642-1727), e faremos o cálculo da força de todos os planetas, alinhados com o Sol e com a Terra, sobre a Terra. Então compararemos este total com a força exercida somente pelo Sol, que é responsável por manter a Terra em seu movimento anual. Veremos que o resultado da comparação é bastante simples e não tem nada de ameaçador, como muitas vezes é sugerido. A lição que devemos aprender é a de ser céticos quando confrontados com afirmações perturbadoras. O conhecimento científico deve ser aplicado para o esclarecimento de nossas dúvidas.
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Força = Gmobjeto mterra/R2 G (constante de gravitação) = 6,67×10−11 m3/(s2kg)
Notas: (a) A potência de 10 é frequentemente usada para a expressão de números muito grandes. Por exemplo, a massa do Sol, na tabela acima, é escrita como 2,0×1030 kg, significando que o número 2,0 deve ser multiplicado por 1 seguido de 30 zeros, isto é, 1 milhão de trilhões de trilhões. Da mesma forma, a sua distância até a Terra é de 150 milhões de quilômetros (150×106 km). (b) A unidade de força N (Newton) é uma unidade composta: 1 N = 1 kg m/s2. |
Feito este teste de consistência dos dados apresentados, vamos agora examinar a questão do alinhamento dos planetas, e sua influência sobre a nossa Terra. A figura que se segue mostra o Sol e todos os planetas do sistema solar posicionados em ordem a partir do Sol. A figura não está em escala, nem de comprimentos e nem de tamanhos do Sol e dos planetas. Trata-se apenas de um esquema para auxiliar o nosso raciocínio. A ordem dos planetas é a mesma que aparece na tabela de dados do sistema solar.
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Alinhamento hipotético do Sol com os planetas. O alinhamento é suposto perfeito, o que dificilmente ocorreria no sistema solar real, mas serve para simplificar os cálculos das forças gravitacionais exercidas pelo Sol e pelos planetas sobre a Terra. A separação entre os planetas e o Sol é apenas esquemática e os círculos não representam o tamanho real dos mesmos. A seta superior indica os sentidos das forças gravitacionais exercidas pelos corpos localizados à esquerda da Terra (forças positivas na tabela do sistema solar). A seta inferior, os sentidos das forças dos corpos à direita (forças negativas). |
Na tabela de dados do sistema solar, e na figura do alinhamento,
vemos que há três corpos (Sol, Mercúrio e Vênus) que
exercem forças positivas sobre a Terra (para a esquerda, na
figura), e cinco planetas que exercem forças negativas.
A grande conclusão que extraímos dos cálculos é a
de que a força exercida apenas pelo Sol (1022
N) é cerca de 104 = 10.000 vezes a maior força exercida
pelos planetas (Vênus e Júpiter; veja a tabela). Se fizermos a soma
das forças de todos os planetas, considerando os sentidos das
mesmas -- positiva ou negativa, isto é, para a esquerda ou para
a direita --, concluiremos que a força gravitacional do Sol, apenas, é
40.000 vezes maior que a força combinada de todos os outros
planetas, no alinhamento ideal suposto acima. Se considerarmos
que nunca teremos a ocorrência de um alinhamento tão perfeito,
fica claro que a perturbação introduzida pelos outros planetas
sobre a Terra, o nosso lar no Cosmos, será totalmente desprezível!
Percentualmente, o efeito máximo de um possível alinhamento Sol-planetas diminuiria a força do Sol sobre a Terra em apenas 0,003% da força existente na ausência do alinhamento!!! O que, para efeitos práticos, é totalmente imperceptível.
Portanto, alarmistas de plantão! Façam as contas antes de qualquer coisa...
E vamos em frente, que a vida continua.